quarta-feira, setembro 09, 2009

O "bambino milonguero" da Fiel


É notória a paixão corintiana pelos jogadores argentinos. A tradicional raça portenha costuma casar bem com a história alvinegra, marcada pelas mesmas características. E tal "casamento" ganhou cores mais fortes nesta década.

Somados os recém-contratados Defederico e Torres, são nada menos que oito argentinos com passagem pelo Timão desde 2001. De ídolos e atuais estrelas internacionais como Carlitos Tevez e Javier Mascherano a fracassos esquecíveis como Ávalos e Sebá Domínguez.

Mas bem antes disso, a "invasión" já ocorria, embora em menor escala. E entre os casos mais folclóricos, sem dúvida destaca-se o nome de Héctor Rodolfo Veira.

Sua carreira profissional começou em 1963, no San Lorenzo de Almagro. El Bambino fez furor em seu início, sendo artilheiro do Campeonato Nacional já no ano seguinte, com apenas 18 anos. Em 1967, chegou à Seleção, e no ano seguinte, comandou o Ciclón na conquista invicta do Torneio Metropolitano. Formava na época uma irresistível dupla de ataque com o lendário Ubaldo Fillol, igualmente loiro, cabeludo e irreverente, e que mais tarde receberia o amor de torcedores de Flamengo e Fluminense.

Após rápidas passagens por Huracán, Santos Laguna (México) e Banfield, com um breve retorno ao San Lorenzo no meio do caminho, passou pelo Sevilla, fracassando em sua estreia em campos europeus. No início de 1976, com 30 anos incompletos, foi anunciado pelo presidente Vicente Matheus como grande reforço para o Corinthians. Com um gostinho especial para a Fiel: a contratação foi um "chapéu" no arquirrival Palmeiras, pelo qual Veira chegou até a disputar alguns amistosos enquanto negociava seu contrato.

Suas façanhas do início de carreira foram longamente decantadas e serviram de alento a uma torcida então sofrendo com mais de duas décadas sem títulos de peso. Mas aquele brilhante jogador era coisa do passado: fora de forma, ressentindo-se de várias contusões e sem tanta disposição para treinar, pouco jogou (menos de dez partidas) e não marcou gols.

Em uma de suas últimas aparições, em outubro daquele ano, entrou no segundo tempo de uma partida contra o Operário de Campo Grande. A vitória por 2 x 1 não bastava ao Corinthians, que buscava mais um gol para obter um ponto adicional (previsto pelo confuso regulamento do Brasileirão na época). Em seu primeiro toque na bola, Veira fez lindo lançamento para o meia Neca, que só teve o trabalho de completar para as redes. Com a torcida em delírio, arrancou a camisa e a atirou para as arquibancadas. Acabou expulso.

Foi embora pouco depois, no mais absoluto anonimato. Passou rapidamente pelo Universidad de Chile e pelos exóticos Comunicaciones (da Guatemala) e Oriente Petrolero (da Bolívia), onde pendurou as chuteiras em 1978.

Tornou-se técnico e do banco de reservas construiu uma história mais vitoriosa e marcante. Após quatro temporadas dirigindo o San Lorenzo e uma passagem fugaz pelo Vélez Sarsfield, assumiu em 1985 o River Plate, que sob o comando do genial uruguaio Francescoli conquistou na temporada seguinte o título nacional, a inédita Libertadores e (já sem o meia, que havia ido para a França) o mundial no Japão diante do surpreendente Steaua Bucareste, campeão europeu derrubando o poderoso Barcelona.

De volta ao San Lorenzo, conquistou o Torneio Clausura em 1995 (pondo fim a um jejum de 21 anos sem conquistas nacionais) com uma equipe onde brilhava o meia Silas (atualmente técnico do Avaí). Depois, passou pelo Boca Juniors (em período de entressafra, apesar das presenças dos veteranos Maradona e Caniggia), seleção da Bolívia, Lanús, Newell's Old Boys e Quilmes, voltando ao San Lorenzo para enfim encerrar sua carreira futebolística em 2004, aos 58 anos, e com a marca de 371 partidas comandando o Ciclón, recorde histórico do clube.

Sua carreira ainda foi manchada por um escândalo pessoal. Em 1987 foi acusado de molestar um jovem de 13 anos chamado Sebastián Candelmo, integrante da equipe juvenil do River Plate. Condenado em 1991 a seis anos de prisão, obteve condicional, mas até hoje jura inocência.

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