quarta-feira, setembro 08, 2010

São Paulo x Flamengo

Por Campeonatos Brasileiros:
42 jogos
17 vitórias do São Paulo
12 empates
13 vitórias do Flamengo
64 gols do São Paulo
44 gols do Flamengo

Pela Copa Libertadores:
2 jogos
1 vitórias do São Paulo
1 empate
3 gols do São Paulo
1 gol do Flamengo

Tabu: o Flamengo não vence o São Paulo no Morumbi desde o Brasileiro de 2003 (3 x 1).

Confronto marcante: a vitória rubro-negra por 4 x 3 no Morumbi, em 1982, em partida magistral entre duas das equipes mais poderosas do país na época, alinhando nada menos que seis titulares da fantástica Seleção Brasileira treinada por Telê Santana.



SÃO PAULO 3 X 4 FLAMENGO
Estádio: Morumbi, São Paulo (SP)
Data: 16/02/1982
Árbitro: Edson Alcântara Amorim (MG)
Público: 70.857
Gols: Darío Pereyra, Everton e Renato (SP); Lico, Tita, Zico e Nunes (Fla)
São Paulo: Valdir Perez, Getúlio, Gassem, Darío Pereyra e Marinho Chagas; Almir, Heriberto e Éverton; Renato, Serginho Chulapa e Ricardo (Buca). Técnico: Chico Formiga
Flamengo: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico (Vítor). Técnico: Paulo César Carpegiani

terça-feira, setembro 07, 2010

Cruzeiro x Internacional

Por Campeonatos Brasileiros:
48 jogos
18 vitórias do Cruzeiro
14 empates
16 vitórias do Internacional
63 gols do Cruzeiro
59 gols do Internacional

Pela Copa Libertadores:
4 jogos
3 vitórias do Cruzeiro
1 empate
8 gols do Cruzeiro
4 gols do Internacional

Tabu: o Internacional não vence o Cruzeiro em Minas Gerais, por Campeonatos Brasileiros, desde a semifinal da Copa União de 1987: 1 x 0 no Mineirão, gol marcado por Amarildo na prorrogação. Já são 23 anos e 17 jogos de invencibilidade celeste em seu Estado. Neste período, houve uma vitória colorada por 1 x 0, gol de Rafael Sóbis, em 20.10.2004, mas esta partida foi válida pela Copa Sul-Americana.

Confronto marcante: a vitória cruzeirense por 5 x 4, em partida sensacional pela Libertadores de 1976.



CRUZEIRO 5 X 4 INTERNACIONAL
Estádio: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Data: 07/03/1976
Árbitro: Luis Pestarino (Argentina)
Renda: Cr$ 793.407,00
Público: 65.463
Gols: Palhinha 4 e 10, Lula 14, Joãozinho 21 e Lula 39 do 1º; Zé Carlos (contra) 6, Joãozinho 17, Ramón 25 e Nelinho (pênalti) 39 do 2º
Cruzeiro: Raul, Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Vanderlei; Zé Carlos e Eduardo; Roberto Batata (Isidoro), Jairzinho, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreyra
Internacional: Manga, Cláudio Duarte (Valdir), Figueroa, Hermínio e Vacaria; Caçapava e Falcão; Valdomiro, Flávio (Ramón), Escurinho e Lula. Técnico: Rubens Minelli

Fluminense x Ceará

Por Campeonatos Brasileiros:
9 jogos
5 vitórias do Fluminense
1 empate
3 vitórias do Ceará
11 gols do Fluminense
8 gols do Ceará

Pela Copa do Brasil:
4 jogos
1 vitória do Fluminense
2 empates
1 vitória do Ceará
6 gols do Fluminense
4 gols do Ceará

Tabu: o Ceará jamais venceu o Fluminense jogando no Rio de Janeiro.

Confronto marcante: pela semifinal da Copa do Brasil de 2005, o Fluminense goleou o Vozão em pleno Estádio Castelão por 4 x 1, após um empate em 2 x 2 no Rio, garantindo vaga na final contra o Paulista (que acabou vencida pelo time de Jundiaí).



CEARÁ 1 X 4 FLUMINENSE
Estádio: Castelão, Fortaleza (CE)
Data: 01/06/2005
Árbitro: Leonardo Gaciba da Silva (RS)
Renda: R$ 687.740,00
Público: 51.137
Cartões amarelos: Vanderlei, Sandro (Ceará), Fabiano Eller e Tuta (Fluminense)
Gols: Tuta 15 e Diego Souza 18 do 1º; Rodrigo Tiuí 6, Tuta 7 e Camanducaia 21 do 2º
Ceará: Adílson, André Turatto (Sidney), Vanderlei (Wendell) e Duílio; Vágner, Sandro, Germano, Valdeir (Barata) e Victor Boleta; Camanducaia e Maurílio. Técnico: Jair Pereira.
Fluminense: Kléber, Gabriel (Lino), Antônio Carlos, Fabiano Eller e Juan; Marcão, Arouca, Diego Souza e Maicon (Schneider); Leandro (Rodrigo Tiuí) e Tuta. Técnico: Abel Braga.

segunda-feira, agosto 16, 2010

Europa: jogadores que atuaram nas quatro grandes Ligas

Recém-contratado pelo Liverpool e com passagens por Schalke 04, Sevilla e Juventus, o volante dinamarquês Christian Poulsen entrou para um seleto clube: o dos jogadores a terem atuado pelas quatro principais Ligas Nacionais europeias (Itália, Alemanha, Espanha e Inglaterra).

Antes dele, apenas outros seis atletas atingiram a mesma marca. São eles:

Famoso tanto pelo estilo meio estabanado em campo quanto pelos cabelos e barba sempre descoloridos e com cortes "modernosos", o zagueiro português Abel Xavier passou pelos italianos Bari e Roma, pelo espanhol Oviedo, pelo alemão Hannover 96 e por nada menos que três equipes inglesas, Everton, Liverpool e Middlesbrough. Autêntico "cigano", passou ainda por outras cinco equipes em dezoito anos de carreira.

Conterrâneo de Poulsen, o atacante Jon Dahl Tomasson teve passagens por Newcastle, Milan e Stuttgart, completando o ciclo das quatro grandes Ligas com um rápido estágio no Villarreal.

Com longa carreira construída no futebol italiano (passou por Vicenza, Lucchese, Roma, Bologna, Brescia e Internazionale), o lateral-esquerdo camaronês Pierre Womé ainda achou tempo para defender Fulham, Espanyol, Werder Bremen e Colônia, seu último clube (atualmente encontra-se sem vínculo).

Destaques da seleção romena que fez belo papel na Copa do Mundo de 1994, o zagueiro Gheorghe Popescu e o atacante Florin Răducioiu (foto, camisas 6 e 9) também rodaram bastante pelos principais campos europeus. O primeiro defendeu Tottenham, Barcelona, Lecce e Hannover; já o segundo passou por vários times italianos (Bari, Verona, Brescia e Milan), além de Espanyol, West Ham e Stuttgart.

Por fim, o meio-campo português Nuno Ricardo de Oliveira Ribeiro, ou simplesmente Maniche, um dos raros a atuar pelos três gigantes locais (Porto, Benfica e Sporting, seu atual clube), além de ter defendido Chelsea, Atlético de Madrid, Internazionale e Colônia.


Fontes: Leonardo Bertozzi (ESPN/Trivela) e 2010MisterChip

quarta-feira, junho 23, 2010

Os 23 da Copa (XI) - Robinho: o homem de confiança

Tem alguns garotos aqui no Santos que, se bem trabalhados, vão chegar lá. Por exemplo, o Robinho, um crioulinho. Ele sabe driblar e é inteligente.

No início de 1999, Pelé acompanhava de perto as divisões de base do Santos e cunhou a frase acima, dada em entrevista à revista Placar. É fato que são famosas as apostas e palpites equivocados do Rei, mas nesta ele até que acertou. Robinho, o tal “crioulinho”, tornou-se uma das grandes esperanças do futebol brasileiro em mais uma Copa do Mundo.

Apenas três anos depois da “profecia”, ele foi promovido aos profissionais do Santos, com apenas 18 anos. A seu lado, outras promessas das categorias de base, como o meia Diego, um ano mais novo e seu parceiro inseparável dentro e fora de campo. A bem da verdade, nada disso fez parte de um planejamento meticuloso e profissional; o clube, afundado em dívidas e sem ter como investir em jogadores famosos, tinha nos juniores uma opção (muito) mais barata. E assim o Peixe entrou no Brasileiro de 2002, com um elenco desconhecido e apontado por muitos como forte candidato ao rebaixamento.

Porém, tão logo a bola rolou, descobriu-se um timaço. E aquela equipe comandada por jogadores jovens e/ou pouco conhecidos, como Alex, Maurinho e Alberto, aliados a outros que já estavam na Vila Belmiro sem chamar muito a atenção, casos de Elano e Renato, acabou conquistando de forma brilhante o título brasileiro.

As grandes estrelas da inédita conquista, que pôs fim a um incômodo jejum de dezoito anos sem um título oficial importante, foram justamente os garotos Diego e Robinho. Este, ao comandar a equipe na dramática final contra o odiado arquirrival Corinthians, virou estrela da noite para o dia. Com o companheiro Diego saindo contundido logo a 2 minutos de jogo, Robinho chamou a responsabilidade para si. Construiu os três gols da vitória, sendo que no primeiro conseguiu um pênalti após humilhar o lateral-direito Rogério com uma impressionante e inesquecível seqüência de “pedaladas”, o famoso drible em que se passa seguidamente o pé sobre a bola, imitando o movimento usado em uma bicicleta.

Integrado ao time das estrelas do futebol brasileiro, Robinho logo passou a ter seu lugar exigido pela opinião pública na Seleção Brasileira, talvez de forma prematura. Embora habilidosíssimo e veloz nos dribles, ainda demonstrava uma certa fragilidade física e deficiência nas conclusões a gol. Depois de se destacar na Libertadores de 2003, levando o Peixe ao vice-campeonato, mergulhou em uma má fase, que se estendeu do Brasileiro daquele ano (em que seu clube, teoricamente dono do melhor elenco, acabou perdendo o título para o Cruzeiro) ao Torneio Pré-Olímpico do Chile, em 2004 (o favoritíssimo Brasil naufragou no quadrangular final e perdeu a vaga nos Jogos de Atenas).

O parceiro Diego foi embora, negociado com o Porto. O técnico Emerson Leão também, chegando Wanderley Luxemburgo para seu lugar. E Robinho logo voltou a exibir seu melhor futebol com o novo treinador. Iniciou um trabalho de fortalecimento físico, visando torná-lo um jogador mais resistente às divididas e ao jogo brusco sem contudo prejudicar sua habilidade e mobilidade; e, cobrado energicamente por Luxa, passou a treinar com afinco as conclusões. O resultado foi que ainda ficou longe de ser um emérito finalizador, mas certamente seu aproveitamento tornou-se bem mais aceitável; tanto que, com 21 gols, acabou sendo o artilheiro santista no Brasileiro de 2004, ao lado do centroavante Deivid.

E foi na reta final daquela mesma competição que viveu o maior drama de toda sua vida. Sua mãe, Dona Marina, foi seqüestrada e passou aproximadamente quarenta dias em um cativeiro. Afastado da equipe durante esse período, contou com total apoio de seus companheiros e também da torcida. Só retornou na última rodada da competição, diante do Vasco, apenas dois dias após a libertação de sua mãe, felizmente sem quaisquer marcas (físicas) deixadas pela barbárie. Fora de forma, foi substituído no segundo tempo, festejando depois a conquista de mais um Nacional, o segundo em três anos.

Apenas em 2005 o técnico Carlos Alberto Parreira passou a lhe dar chances reais com a camisa da Seleção principal. E Robinho acabou sendo titular da equipe que conquistou a Copa das Confederações. Não chegou a brilhar como no clube, mas mostrou vários lances de brilho, quase marcando lindos gols tanto contra a Alemanha como contra a Argentina.

Na volta da competição, revelou ter uma proposta concreta do Real Madrid, e que queria ir para a Europa. Julgava já ter encerrado seu ciclo no Santos e argumentava querer dar segurança a sua família, compreensivelmente traumatizada com o lamentável caso envolvendo sua mãe. Após um mês de litígio com o clube, que tentou a todo custo segurá-lo, acabou finalmente negociado por 30 milhões de dólares, um valor certamente compensador diante de tantas outras transações vergonhosas, em que craques brasileiros incontestáveis são negociados a preço de banana (vide os casos Kaká e Diego, por exemplo).

Porém, a fase do clube merengue não ajudou. Robinho chegou no meio de uma crise que se arrastava há três temporadas (e, fora um ou outro espasmo, dura até hoje), tempo em que o Real Madrid tornou-se famoso por suas contratações vultosas e sem critério técnico, que resultam na falta de títulos. Ele próprio acabou por entrar no clima algo "circense" reinante no clube espanhol e foi aos poucos substituindo os gols e dribles objetivos rumo ao gol por um futebol de muitas firulas e irritantemente improdutivo, o mesmo mal que podou a carreira do ex-são-paulino Denilson, outro a trocar o futebol brasileiro pelos milhões espanhóis.

Contudo, seu desempenho na Seleção não foi afetado. Nas chances que recebeu na Copa da Alemanha, houve-se bem e sua entrada no lugar de Adriano foi cobrada por muitos, mas a contusão que o afastou da partida contra Gana nas oitavas-de-final parece tê-lo prejudicado neste objetivo. Voltou da Alemanha sem arranhões na imagem e começou a segunda "Era Dunga" com moral de titular absoluto, que se confirmou com o título, a artilharia (algo inédito em sua carreira) e o posto de melhor jogador na Copa América de 2007, disputada na Venezuela. A partir daí tornou-se definitivamente homem de confiança do treinador.

A má fase no Real Madrid, aliada ao sonho (mais próximo de delírio, no fim das contas) de ser "o melhor jogador do mundo", seguiu atrapalhando-o na Espanha, culminando com declarações desastradas, como as de que preferia "vender pastel na feira" a jogar naquele que é talvez o mais tradicional e historicamente vitorioso clube do planeta. Após fracassar a negociação com o Chelsea, que havia acabado de ser assumido por Luiz Felipe Scolari, foi parar no Manchester City, equipe mais modesta e recém-adquirida por um magnata árabe.

O início na Inglaterra foi bom, com dribles e gols que faziam parecer que a boa fase estava de volta. Mas o desequilíbrio da equipe em campo, com uma defesa muito frágil em comparação com o forte ataque, a campanha consequentemente fraca e a noite de Manchester (com direito a uma controvertida, e depois desmentida, acusação de estupro em uma de suas inúmeras "baladas") fizeram Robinho sucumbir mais uma vez. Reserva, ainda mais depois da chegada de nomes como Bellamy, Roque Santa Cruz e do argentino Tevez, a quem ironica ofuscava quando eram rivais no futebol paulista anos antes, mais uma vez deixou o mau comportamento falar mais alto, com declarações equivocadas de inconformismo via imprensa.

O empréstimo a seu velho e querido Santos caiu como uma luva. Apesar dos apenas 26 anos, chegou para ser o "veterano" da nova geração dos "Meninos da Vila". Seu desempenho em campo está longe de ser decepcionante, colaborando com gols e assistências nas campanhas do título paulista e do "quase-título" da Copa do Brasil (que será decidida contra a "zebra" Vitória após a Copa do Mundo), mas Robinho acabou ofuscado pelas estrelas ascendentes Neymar (quase uma fotocópia dele mesmo anos atrás, mas que aparenta ser ainda mais promissora) e Paulo Henrique "Ganso", este a menina-dos-olhos do torcedor brasileiro e que acabou, após muitas súplicas de convocação, entrando apenas na lista dos sete "suplentes" de Dunga para a Copa.

Na Seleção, apesar de não estar repetindo o mesmo desempenho de 2006/07, Robinho segue com prestígio e titular absoluto de Dunga. Um dos melhores em campo na estreia do Mundial da África do Sul, com direito a uma bela assistência para Elano que fechou a vitória contra a Coreia do Norte, esteve meio sumido diante da truculenta Costa do Marfim. Mas a esperança é que, a partir do difícil confronto contra Portugal, consiga reviver, ao menos em parte, os tempos em que ostentava no futebol brasileiro o prestígio que hoje cabe a seu companheiro de clube Neymar.


Róbson de Souza
atacante
São Vicente (SP), 25.01.1984
1,72 m
65 kg
Clubes: Santos (2002 a 2005 e desde 2010), Real Madrid-ESP (2005 a 2008) e Manchester City-ING (2008/09).
Títulos: paulista (2010) e brasileiro (2002 e 2004) pelo Santos; espanhol (2007/08) pelo Real Madrid; da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 88 (31 gols)
Participação em Copas:
2006 (5º lugar) – 4 jogos, nenhum gol

Foto: Getty Images

segunda-feira, junho 21, 2010

Os 23 da Copa (X) - Kaká: a esperança de inspiração

Um tolo acidente quase interrompeu no nascedouro a carreira de um dos mais talentosos jogadores brasileiros da atualidade. Em outubro de 2000, apenas três anos após iniciar nas categorias de base do São Paulo, o jovem Cacá (era assim que a imprensa escrevia na época), então com 18 anos, curtia uma folga na cidade goiana de Caldas Novas, mundialmente famosa por suas águas termais. Ao mergulhar de mau jeito, o rapaz bateu a cabeça no fundo da piscina, lesionando gravemente a espinha. Milagrosamente, escapou de perder todos os movimentos do corpo.

O episódio pode não ter tido maiores conseqüências, mas lhe custou a vaga de titular na Copa São Paulo de Juniores, no ano seguinte. O jovem alto e imberbe no banco de reservas não atraía tanto a atenção da imprensa, mais interessada nos movimentos de outras promessas do Tricolor, como Harisson, Oliveira e Renatinho. Ironicamente, nenhum deles, especialmente os dois últimos, chegou perto do sucesso do tal reserva...

Às vésperas de um clássico contra o Santos, pelo Paulistão, o técnico Oswaldo Alvarez precisou de jogadores para completar a equipe. E socorreu-se aos juniores: Renatinho e Harisson atuaram como titulares, e Cacá foi para o banco, mais como um quebra-galho. Mas começou aí sua trajetória de sucesso: substituindo Harisson no segundo tempo, em um de seus primeiros lances marcou um belo gol de cabeça, lance fundamental na vitória por 4 x 2.

Mas a explosão de fato viria alguns dias depois. Na partida decisiva do Rio-São Paulo, o Tricolor perdia no Morumbi para o Botafogo, por 1 x 0, diante de mais de 70 mil torcedores. O resultado em si não trazia preocupação, afinal o São Paulo havia conseguido uma grande vantagem goleando por 4 x 1 em pleno Maracanã na partida de ida. Mas a idéia de ter a faixa carimbada incomodava. Até que Cacá, novamente entrando na segunda etapa, virou a partida com dois gols em apenas três minutos, um deles magistral, entortando o zagueiro Váldson. O São Paulo conquistava um título inédito e o jovem meia tornava-se astro da noite para o dia.

Logo o assédio tornou-se avassalador. E o garoto logo aproveitou para fazer um pedido à imprensa: que seu apelido fosse escrito com dois “k’s”, ou seja, Kaká. Um pedido algo estranho, mas atendido de imediato. E a cada vez mais freqüente exposição na mídia logo o tornou alvo não apenas da torcida, como também das adolescentes, encantadas por outros atributos do atleta...

Após boas participações no Paulistão e no Brasileiro, bem como no Mundial Sub-20 da Argentina, a sonhada chance de vestir a camisa amarela principal veio em 2002, poucos meses antes da Copa. Kaká mostrou bom futebol nos amistosos, contou com a sorte (o concorrente Djalminha foi cortado à última hora por problemas disciplinares) e garantiu uma vaga no grupo que iria à Coréia do Sul e Japão. A exemplo do Ronaldo de 1994, Kaká teria no Mundial uma espécie de “vestibular”, visando ganhar experiência entre os reservas, acostumando-se ao ambiente da Seleção para firmar-se futuramente.

Teve apenas uma oportunidade de atuar na Copa, atuando alguns poucos minutos na goleada de 5 x 2 sobre a Costa Rica. Uma participação discreta. Após comemorar o pentacampeonato e retornar ao São Paulo, fez um Brasileiro excepcional e o clube ficou com o primeiro lugar disparado na fase de classificação. Porém, a eliminação para o Santos de Robinho e Diego trouxe a crise para a equipe, acusada de “pipocar” na hora mais decisiva.

No ano seguinte, os fracassos tricolores continuaram. Impaciente e desesperada, parte da torcida são-paulina (praticamente toda ela composta por uma organizada famosa por seus brutais atos de violência) passou a perseguir Kaká, jogando sobre ele a responsabilidade pelos fracassos. Tal barbaridade contribuiu em muito para a prematura saída do craque, vendido ao Milan em julho daquele mesmo ano por quase módicos 8,5 milhões de dólares.

Kaká chegou ao time rossonero mais como uma aposta para o futuro, mas surpreendeu os italianos. Cheio de disposição, ganhou a vaga de titular já na pré-temporada de 2003/04, barrando os medalhões Rivaldo e Rui Costa. O craque do Mundial de 2002 também acabaria barrado pelo garoto “abusado” na Seleção. Kaká terminou 2003 titular absoluto da Seleção, agora sob o comando de Parreira, e também do Milan.

Terminou a temporada em alta, campeão nacional e eleito o melhor jogador da competição. Foi dele também toda a jogada que resultou no gol do título, marcado por Shevchenko na partida decisiva diante da Roma. A essa altura, os 8,5 milhões pagos por seu passe já eram definitivamente preço de banana.

Nas temporadas seguintes, Kaká firmou-se definitivamente como titular da Seleção Brasileira, revelando-se um dos jogadores mais regulares da equipe e mesmo se sacrificando na marcação para que Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Adriano pudessem brilhar mais. No Milan, apesar de decepções como os dois vices italianos e a inacreditável perda da Champions League de 2004/05 para o Liverpool, seu prestígio seguia igualmente intacto.

Contudo, não escapou da mediocridade que acometeu toda a Seleção no Mundial da Alemanha. Após uma atuação regular e um belo gol na estreia diante da Croácia, pouco fez de relevante nas partidas seguintes. Isso até mesmo lhe custou uma suposta perda da posição de titular no início da "segunda Era Dunga": o ex-volante e agora treinador o deixou no banco em um de seus primeiros amistosos no comando da equipe, mas foi obrigado a ver o meia entrar no segundo tempo contra a Argentina e marcar um lindo gol, numa sensacional arrancada desde o campo de defesa que fechou o placar de 3 x 0 no Emirates Stadium de Londres.

Novamente indispensável ao grupo titular da Seleção por seu talento, atingiu seu auge no ano seguinte. Comandou a inesperada conquista de um Milan cheio de veteranos e mergulhado em má fase na Champions League e, depois, no Mundial de Clubes da Fifa. Arrematou o prêmio de melhor jogador do ano pela Fifa em dezembro de 2007, após a final no Japão.

Pouco depois, começou o calvário provocado pelas constantes lesões pubianas, que o tiraram de várias partidas importantes, não só pelo Milan como também pela Seleção. E, após anos de intenso assédio, ora real e concreto, ora apenas mero circo midiático, acabou negociado com o Real Madrid, por incríveis 65 milhões de euros, e um tanto a contragosto. Kaká nunca negou sua afinidade com o manto rossonero e manifestava o desejo de no futuro tornar-se capitão e uma "bandeira" da equipe; a diretoria capitaneada pelo magnata Silvio Berlusconi, contudo, não pareceu comungar da mesma opinião e, mesmo vendo o time envelhecido e decadente, não hesitou em vender sua maior estrela para garantir um suposto equilíbrio de caixa.

Em sua primeira temporada com a camisa merengue, seu desempenho acabou prejudicado pelos velhos problemas no púbis, acabando o brasileiro ofuscado pela outra contratação "galática" da pré-temporada, o português Cristiano Ronaldo. E o desempenho recente pela Seleção põe igualmente em dúvida sua capacidade de contribuir para o sonhado hexa na África do Sul. Após uma atuação esforçada, mas sem brilho, na estreia diante da Coreia do Norte, e partir do céu com duas assistências ao inferno de uma expulsão controvertida contra a Costa do Marfim, Kaká, na condição de maior e talvez único craque do grupo de Dunga, tem o desafio de provar que ainda poderá voltar a brilhar tão intensamente quanto há três temporadas.


Ricardo Izecson Santos Leite
meia
Brasília (DF), 22.04.1982
1,84 m
75 kg
Clubes: São Paulo (2001 a 2003), Milan-ITA (2003 a 2009) e Real Madrid-ESP (desde 2009).
Títulos: do Rio-São Paulo (2001) pelo São Paulo; italiano (2004), da Liga dos Campeões (2007), da Supercopa Européia (2003 e 2007) e mundial de clubes da FIFA (2007) pelo Milan; mundial (2002) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira
Jogos pela Seleção: 89 (33 gols)
Participação em Copas:
2002 (campeão) – 1 jogo, nenhum gol
2006 (5º lugar) – 5 jogos, 1 gol

Photo: AP Photo

sábado, junho 12, 2010

Os 23 da Copa (IX) - Luís Fabiano: mais que uma fábula

Filho de mãe solteira, aluno rebelde, o pequeno Luís Fabiano certamente teria tido um futuro não muito promissor não fosse a dedicação e o carinho do avô paterno, "seo" Benedito, que lhe fez as vezes de pai. Incentivador maior do garoto, Ditão lhe conseguiu um teste no Guarani: foi aprovado, mas acabou dispensado um ano depois, quando iria estourar o limite de idade de sua categoria.

Depois de um tempo parado e não tendo tido sucesso em outros ofícios, Luís conseguiu novo teste, no Ituano, e, pouco tempo depois, saiu de lá rumo aos juniores da Ponte Preta, para alegria do avô, torcedor fanático da Macaca. E suas primeiras oportunidades vieram em 1999, ainda poucas num bom time que havia conseguido enfim sair da Série A-2 Paulista após quatro anos de ausência da elite e feito ótima campanha no Brasileiro, chegando às quartas-de-final.

Ainda conhecido apenas como "Fabiano", tornou-se titular em 2000, fazendo um bom Estadual e chamando a atenção do Rennes, modesta agremiação francesa, que à época apostou em outro jovem atacante brasileiro, Lucas, do Atlético-PR e Seleção Olímpica. Não se adaptou à Europa e a notícia do falecimento do avô querido, em setembro daquele mesmo ano, só piorou as coisas.

Retornou no ano seguinte, emprestado ao São Paulo. Na mesma época, desembarcava no Morumbi, outro atacante chamado Fabiano, vindo do Inter e que curiosamente também tinha em seu registro de nascimento o nome Luís Fabiano. A solução foi "rebatizar" o ex-ponte-pretano com seu nome composto, que o acompanha até hoje, enquanto o ex-colorado passou a atender como Fabiano Souza.

Fabiano Souza, famoso por ter comandado a histórica goleada do Inter por 5 x 2 sobre o Grêmio em pleno Olímpico no ano de 1997, acabou tendo passagem apagadíssima pelo Tricolor e muitos torcedores hoje sequer lembram que ele algum dia esteve no Morumbi. Luís Fabiano, em compensação, foi marcante. Ainda desconhecido pela torcida, entrou durante a partida contra o Botafogo no Maracanã, jogo de ida da final do Rio-São Paulo; e fez dois gols na goleada de 4 x 1 que deixou o título praticamente sacramentado para a volta, na qual surgiu outro futuro craque do futuro brasileiro e seu companheiro no Mundial, Kaká.

Logo virou titular e fez ótima dupla de ataque com o também goleador França. Contudo, aquele time, fortíssimo no meio-campo e ataque, acabou a temporada sem títulos, muito por conta de sua frágil defesa. Devolvido ao Rennes por não ter havido acerto financeiro para sua permanência, acabou retornando em definitivo ao Morumbi no segundo semestre de 2002, desta vez para substituir o recém-negociado França como principal referência no ataque são-paulino e ser "escudado" pelo ex-flamenguista Reinaldo.

Acabou artilheiro do campeonato, ao lago do gremista Rodrigo Fabri, mas o time, depois de terminar a fase de classificação disparado na primeira posição, acabou atropelado pelo Santos de Diego e Robinho, o futuro campeão, na fase de mata-mata. Em 2003, a incômoda rotina continuou: muitos gols (artilheiro do Paulistão e 3º maior goleador no Brasileiro, apenas dois gols atrás de Dimba, do Goiás) e a idolatria da torcida, mas o time sempre fraquejava na hora de decidir. Ao menos, o 3º lugar no Brasileiro garantiu o retorno à disputa da Libertadores depois de quase dez temporadas de ausência; e Luís Fabiano ainda fez sua estreia pela Seleção, com um gol na vitória por 3 x 0 diante da Nigéria em amistoso disputado no país africano.

Foi goleador da Libertadores em 2004, mas a doída eliminação diante do Once Caldas, com gol aos 48 do segundo tempo, ofuscou seu belo desempenho. Também acabou sendo coadjuvante na conquista da Copa América: a imprensa paulista o apontava como provável estrela da competição, mas viu Adriano, ex-Flamengo e então chegando à Internazionale, brilhar e ser o maior nome daquele título.

Já contestado por parte da torcida tricolor devido à falta de títulos (nem a ótima marca de 118 gols em 160 partidas vinha sendo muito levada em consideração), foi para o Porto. Parecia bom negócio chegar a uma equipe recém-campeã da Liga dos Campeões e em alta, mas novamente não se adaptou de imediato ao futebol europeu, não conseguindo emplacar mais do que uma temporada. Em baixa, chegou ao Sevilla, time ascendente e que vinha de ótima campanha em La Liga na edição 2004/05, para brigar por uma posição com o argentino Saviola, "eterna promessa" emprestada pelo Barcelona.

Mais uma vez, seu início foi difícil, mas o gol marcado na final da Copa da UEFA, que abriu a goleada de 4 x 0 sobre os ingleses do Middlesbrough e garantiu uma inédita conquista aos Rojiblancos, parece ter lhe dado ânimo. A partir da temporada 2006/07, deslanchou e tornou-se peça indispensável na equipe andaluz, que andou perto de beliscar o título por dois anos seguidos, mas fraquejou nas retas finais. Veio ainda o bi da Copa da UEFA e a conquista da Copa do Rei, título que o Sevilla não ganhava havia 59 anos. E em 2008, Luís Fabiano brigou cabeça a cabeça pela artilharia da Liga, que acabou ficando com o espanhol Güiza, então do Mallorca e atualmente atuando no Valencia.

Mas a maior prova de sua ascensão se deu com a camisa amarela da Seleção. Os dois gols da difícil vitória sobre o Uruguai, em novembro de 2007, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no mesmo Morumbi onde havia brilhado intensamente alguns anos antes, lhe deram moral para agarrar a camisa 9 e não mais a largar. Aproveitou-se ainda dos eternos problemas extra-campo de Ronaldo e Adriano, concorrentes outrora aparentemente insuperáveis e que acabaram derrotados pela própria indolência.

Goleador principal da Seleção na conquista da Copa das Confederações e também nas eliminatórias, hoje Luís Fabiano é peça indispensável no time do técnico Dunga. Há quem diga que não se trata de um "extra-classe" como os centroavantes que o Brasil teve em Mundiais passados, como Reinaldo, Careca, Romário e Ronaldo (claro, quando o preparo físico e comportamento fora de campo lhe permitia ser assim considerado...), mas certamente terá muito a oferecer em uma competição nivelada como a que está sendo disputada na África do Sul.


Luís Fabiano Clemente
atacante
Campinas (SP), 08.11.1980
1,83 m
84 kg
Clubes: Ponte Preta (1999 a 2000), Rennes-FRA (2000 e 2002), São Paulo (2001 e 2002 a 2004), Porto-POR (2004/05) e Sevilla-ESP (desde 2005).
Títulos: do Torneio Rio-São Paulo (2001) pelo São Paulo; mundial interclubes (2004) pelo Porto; da Copa do Rei (2007 e 2010), da Copa da UEFA (2006/07) e da Supercopa Europeia (2006) pelo Sevilla; da Copa América (2004) e da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 38 (25 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

terça-feira, junho 08, 2010

Os 23 da Copa (VIII) - Felipe Melo: contra os próprios nervos

O meia Felipe Melo iniciou sua carreira de forma promissora, dando, com apenas 18 anos, um grande alívio para a maior torcida do Brasil. Seu gol diante do Internacional, numa partida disputada em Juiz de Fora (MG), pela antepenúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2001, acabou no final dando uma valiosa contribuição para que o Flamengo não fosse rebaixado à Série B.

O jogador destacava-se nas categorias de base do Rubro-Negro como um combativo e técnico armador. Mantido na equipe principal, foi dos poucos que se salvou do vexame na Libertadores de 2002, em que seu time foi eliminado ainda na primeira fase: Felipe acabou artilheiro do Mengão com quatro gols. Contudo, caiu de produção com o restante da equipe nas péssimas campanhas feitas nas competições seguintes daquela temporada, em especial no Brasileirão, em que o Flamengo fez novamente uma campanha medíocre e só se salvou da degola nas rodadas finais.

Após disputar o Sul-Americano Sub-20 pela Seleção Brasileira e algumas poucas partidas do Estadual em 2003, acabou emprestado ao Cruzeiro. Não teve maiores oportunidades numa equipe que estava em estado de graça e com o meio-campo povoado de jogadores em grande fase, como Alex, Maldonado, Martinez e Wendell, mas do banco pôde comemorar as conquistas do Brasileiro e da Copa do Brasil (esta, em cima de seu antigo clube), duas das que compuseram a "tríplice coroa" até hoje cantada em prosa e verso pela torcida azul de BH.

No ano seguinte, acabou novamente emprestado, desta vez ao Grêmio. Uma temporada para esquecer. O Imortal amargou a lanterna disparada e um triste rebaixamento, o segundo de sua história no Brasileiro, e que acabou consumado com nada menos que três rodadas de antecedência. Felipe perdeu-se em meio à mediocridade daquele time e só apareceu mesmo quando, na comemoração de um raro gol, pôs a bola sob a camisa. Homenagem a uma gravidez de sua esposa? Não, o ato fazia referência aos implantes de silicone que a mesma havia acabado de fazer nos seios...

Liberado do Flamengo no início de 2005 via Justiça Desportiva, após alegar atrasos salariais, tomou o caminho da Espanha, onde foi defender o Mallorca. Após uma rápida passagem pela equipe das Ilhas Baleares, transferiu-se para o Racing Santander, onde atuou por duas temporadas como titular e sendo aproveitado numa função mais defensiva, como volante, aproveitando-se de seu bom vigor físico e facilidade em marcar. Em 2007, acabou negociado com o modesto Almería, que havia recém-subido da Segunda Divisão e acertado com o também brasileiro Diego Alves, à época promissor goleiro do Atlético-MG e até hoje titular da equipe andaluz.

O Almería fez ótima campanha, ficando em oitavo lugar, e Felipe chamou a atenção de grandes e tradicionais agremiações. A Fiorentina tratou de garantir rapidamente sua contratação, pagando nada desprezíveis 13 milhões de euros por seu passe.

Com a camisa roxa da Viola, explodiu de vez. Seu time fez uma grande campanha, ficando em quarto lugar, superando a favorita Roma de Francesco Totti e garantindo uma das vagas italianas na Champions League da temporada seguinte. Para melhorar, recebeu uma inédita chance na Seleção principal, estreando justamente contra a Itália que o havia acolhido e tendo boa atuação nos 2 x 0 aplicados no Emirates Stadium de Londres.

Firmou-se no grupo de Dunga e garantiu seu lugar como titular na campanha vitoriosa da Copa das Confederações, em junho. Ao mesmo tempo, a poderosa Juventus garantiu sua contratação por nada menos que 25 milhões de euros, quase o dobro do que a Fiorentina havia investido apenas um ano antes.

Tudo ia bem demais, mas para Felipe Melo as coisas começaram a complicar-se desde então. Com um time envelhecido, mal treinado e desequilibrado entre seus setores, a Vecchia Signora fez no Italiano de 2009/2010 sua pior campanha em quase cinquenta anos, perdendo nada menos que 15 de suas 38 partidas e amargando uma modesta sétima posição que a deixou longe até mesmo de disputar uma vaga na UCL. E Felipe, longe de justificar o esforço feito em seu investimento, chegou até a "arrebatar" o Bidone D'Oro, "prêmio" satírico conferido por um programa radiofônico italiano ao suposto pior jogador da temporada.

Na Seleção, também passou a ser discutido. A extrema rispidez na disputa das jogadas, até mesmo em lances banais, a coleção cada vez maior de cartões e os perigosos erros de passe na intermediária defensiva têm preocupado a imprensa e a torcida. Some-se a isso a postura meio arrogante, evidenciada até mesmo em sua constante "carranca" dentro de campo, e um evidente desequilíbrio emocional que, em menos de um mês, o fez envolver-se em patético bate-boca via telefone com o jornalista da ESPN Brasil Paulo Vinícius Coelho, o "PVC", e, mais recentemente, distribuir pontapés nos ingênuos jogadores de Zimbábue e Tanzânia nos últimos amistosos de preparação antes da Copa.

Cabe agora a Felipe Melo vencer seus próprios nervos e provar se é de fato um jogador ascendente e capaz de preencher a contento o meio-campo da Seleção, ou se é apenas um mero engodo desesperado por ver sua boa fase indo embora definitivamente.


Felipe Melo de Carvalho
volante
Volta Redonda (RJ), 26.06.1983
1,83 m
73 kg
Clubes: Flamengo (2001 a 2003), Cruzeiro (2003), Grêmio (2004), Mallorca-ESP (2005), Racing Santander-ESP (2005 a 2007), Almería-ESP (2007/08), Fiorentina-ITA (2008/09) e Juventus-ITA (desde 2009).
Títulos: brasileiro (2003) e da Copa do Brasil (2003) pelo Cruzeiro; da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 18 (2 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

domingo, junho 06, 2010

Os 23 da Copa (VII) - Elano: discreta eficiência

Filho de cortadores de cana da pequena Iracemápolis, cidade de 20 mil habitantes espremida entre Limeira e Piracicaba, o garoto Elano sempre foi incentivado pelo pai a seguir a carreira de jogador. E a primeira chance surgiu aos 13 anos, nas categorias de base do Guarani. Formado no futsal, o meia logo demonstrou as qualidades que sempre marcaram seu futebol: visão de jogo, boa movimentação, capacidade de se adaptar a várias funções em campo, chutes e passes precisos. E tudo isto aliado a um estilo algo "low profile", sem abuso de dribles e maiores firulas desnecessárias.

Não chegou a se profissionalizar no Bugre, conseguindo sua liberação na Justiça após desentendimento com parte da diretoria. Depois de uma breve passagem pela Internacional de Limeira, chegou ao Santos. E eram tempos difíceis na Vila Belmiro. O início da gestão Marcelo Teixeira fora marcado por investimentos extravagantes em jogadores veteranos (e caros) como Rincón, Valdo, Carlos Germano, Galván e Valdir "Bigode", e o jejum de títulos que já se aproximava de completar duas décadas desesperava a torcida. Ficava difícil para os garotos, da base ou recém-chegados ao clube, se firmarem naquelas circunstâncias.

Após quase duas temporadas atuando meio desapercebido, a sorte de Elano, bem como a de seus companheiros, começou a mudar no segundo semestre de 2002. Sem dinheiro, a diretoria se viu obrigada a apostar num time caseiro e barato, promovendo pratas-da-casa como Robinho e Diego, contratando incógnitas como Alex, Alberto e Maurinho, e mantendo apenas alguns nomes com mais tempo de casa, como Léo e Fábio Costa. E aquele time, que no começo do campeonato era dado até mesmo como um candidato ao rebaixamento, durante o certame revelou-se uma equipe magnífica. Elano, bem como Renato, outro que atuava pelo Peixe há algum tempo sem receber maiores atenções por parte de torcida e mídia, explodiu junto com o resto da equipe, sendo uma de suas mais importantes peças e tendo inclusive marcado um gol na inesquecível virada na decisão diante do Corinthians.

Nos anos seguintes, confirmou sua ascensão e mostrou outra faceta de seu futebol: a versatilidade. Chegou a ser utilizado por breves períodos como lateral-direito e centroavante, com resultados satisfatórios. Contudo, a meia-direita era sua verdadeira posição, e lá acabou ficando. Chegou à Seleção Pré-Olímpica, mas acabou fracassando com o resto do time no Torneio do Paraguai, em janeiro de 2004. Em outubro do ano passado, debutou na equipe principal do Brasil, entrando no segundo tempo da partida contra a Colômbia, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006.

Após mais um título brasileiro com o Santos, em 2004 (com direito a mais um gol no jogo decisivo, dessa vez contra o Vasco), recebeu proposta do Shakhtar Donetsk, ascendente (e milionário) clube ucraniano. Embora tivesse expectativa de propostas mais vantajosas de mercados mais tradicionais e com muito mais visibilidade, aceitou o desafio, motivado pela possibilidade da independência financeira e de ajudar sua família. Na Ucrânia, teve um bom início, mas a chegada do rigoroso inverno que castigou não só a si, como também à sua esposa e à filha recém-nascida, lhe trouxe um certo arrependimento. Brigado com o treinador romeno Mircea Lucescu e mandado para a reserva, encontrava-se abatido quando recebeu a notícia que deu uma guinada em sua carreira.

Apesar dos pesares, fora convocado pelo recém-chegado técnico Dunga para a Seleção Principal. E seu início não poderia ter sido melhor: marcou dois gols e foi um dos melhores em campo justamente diante da Argentina, no Emirates Stadium de Londres, segundo amistoso do capitão do Tetra no comando da Seleção. E começou a se impor como uma das peças indispensáveis do esquema tático. Após o título da Copa América de 2007, disputada na Venezuela, trocou a fria e escondida Ucrânia pelo badalado e campeão de audiência futebol inglês. Foi defender o Manchester City, "primo pobre" do poderoso United e começando a receber generosa injeção financeira de um milionário empresário tailandês.

Após uma boa primeira temporada, caiu de produção e também em desgraça com o técnico galês Mark Hughes. A solução foi novamente fazer as malas e mudar-se para a Turquia, onde defende o Galatasaray desde o início da última temporada.

Na Seleção, seguiu em bom ritmo. Chegou a perder a posição para o ex-cruzeirense Ramires durante a última Copa das Confederações, mas a recuperou nos últimos amistosos após fracas atuações do concorrente. Continua mostrando o mesmo futebol discreto, porém eficiente, com grande participação especialmente nas assistências, pelo que promete ser uma das armas do Brasil nas jogadas de bola parada no Mundial. E uma curiosidade o credencia: Elano parece ter uma "estrela" toda especial para confrontos contra seleções mais fortes e tradicionais. Além da Argentina, também marcou belos gols contra Portugal e Itália em amistosos de preparação disputados em 2008 e 2009.


Elano Ralph Blumer
meia
Iracemápolis (SP), 14.06.1981
1,74 m
65 kg
Clubes: Guarani (1999/2000), Inter de Limeira (2000), Santos (2001 a 2005), Shakhtar Donetsk-UCR (2005 a 2007), Manchester City-ING (2007 a 2009) e Galatasaray-TUR (desde 2009).
Títulos: brasileiro (2002 e 2004) pelo Santos; ucraniano (2005/06) pelo Shakhtar; da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 50 (7 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

sexta-feira, maio 28, 2010

Os 23 da Copa (VI) - Gilberto: outra vez na janela do bonde

Uma das melhores revelações do Tio Sam (tradicional equipe carioca de futsal), Gilberto era, porém, muito mais conhecido no início de sua carreira apenas como "o irmão do Nélio". O mano mais velho até teve um início promissor no futebol, fazendo parte de uma geração vitoriosa nos juniores do Flamengo e depois vestindo a lendária camisa 10 titular por algumas temporadas. Contudo, perdeu-se a partir de meados da década de 90 em virtude da indisciplina e do gênio difícil em campo (era acusado por muitos adversários de ser extremamente desleal e maldoso).

Após sair das quadras e passar algum tempo nos times menores no América, Gilberto chegou ao Rubro-Negro em 1996, quando Nélio ainda se encontrava na Gávea, mas já alternando entre entradas e saídas da equipe titular. Mostrou bom futebol, de categoria nos avanços ao ataque e segurança na marcação, sendo titular na conquista invicta do Estadual do mesmo ano.

Mas a sorte mudou já no segundo semestre. O Flamengo fez um Brasileiro medíocre, sofrendo várias goleadas e ficando muito longe da zona de classificação à fase final. E Gilberto acabou perdendo a posição de titular para o jovem Athirson, então mais uma grande promessa oriunda da tradicional "fábrica de craques" rubro-negra.

Após passar mais uma temporada quase inteira no banco, em 1997 (tendo oportunidade de atuar apenas nas convocações de Athirson para a Seleção Sub-20), Gilberto acabou mudando de ares. Foi para o Cruzeiro e recuperou seu bom futebol. Destaque da ótima, porém azarada equipe comandada por Levir Culpi em 1998 (campeã mineira e vice em outros três campeonatos, Copa do Brasil, Brasileiro e Copa Mercosul), chamou a atenção da tradicional Internazionale de Milão.

No time que também contava com Ronaldo, Gilberto teve pouquíssimas oportunidades e não chegou a corresponder quando as recebeu. Retornou ao Brasil seis meses depois, desta vez para vestir a camisa do Vasco.

Mostrou novamente um bom futebol em São Januário. Mas novamente o azar lhe perseguiu: passou longo tempo se recuperando de uma grave contusão no joelho, perdendo praticamente toda a temporada de 2000. Com a crise financeira começando a tomar conta do clube e os salários começando a atrasar, tomou parte na grande barca de medalhões que deixou o clube alvinegro ao longo de 2001.

Indicado pelo técnico Tite, chegou ao Grêmio. Teve ótima passagem por Porto Alegre (com direito à sua primeira convocação para a Seleção, disputando a Copa das Confederações), ainda mais depois que, no Brasileiro de 2003, foi deslocado para o meio-campo e foi um dos nomes decisivos para o Tricolor escapar do rebaixamento. Ao final da competição, seu contrato encerrou-se e foi arriscar a sorte no emergente São Caetano, treinado por seu velho conhecido Tite.

O treinador logo caiu e foi substituído por Muricy Ramalho. Mas Gilberto, também fixado no meio-campo do Azulão, foi um dos pilares da equipe que conquistou o inédito título paulista. Tão logo acabou o campeonato, transferiu-se para o Hertha Berlim da Alemanha, valendo-se de uma cláusula que obrigava o São Caetano a liberá-lo sem custos em caso de proposta européia vantajosa.

Gilberto demorou um pouco a se encontrar na capital alemã. Seu futebol acabou surgindo justamente no meio da temporada da Bundesliga, época em que o frio intenso domina a Europa e os gramados ficam muitas vezes totalmente branquinhos. Por causa disso, a torcida lhe deu o sugestivo apelido de "Homem da Neve". A boa fase acabou lhe valendo o retorno à Seleção, fazendo parte do grupo que conquistou a Copa das Confederações em 2005, competição em que disputou quatro das cinco partidas como titular, inclusive a final contra a arquirrival Argentina. A essa altura, já há muito tempo as coisas haviam se invertido: Nélio é que passara a ser "o irmão do Gilberto"...

Conquistou sua vaga no Mundial da Alemanha praticamente aos 45 do segundo tempo, valendo-se principalmente da má fase do concorrente Gustavo Nery no Corinthians. Como já era esperado, não pôde alimentar esperanças de ganhar a posição de Roberto Carlos, mas aproveitou a única chance, diante do Japão, ocasião em que o camisa 6 e outros titulares foram poupados, para fazer uma boa atuação e até deixar um golzinho.

Com a chegada de Dunga, Gilberto continuou sendo chamado, apesar da idade avançada que teria (como tem) por ocasião da Copa de 2010, disputando posição com jovens como Marcelo, Adriano e Filipe Luís, ascendentes como André Santos e Juan Maldonado, e até mesmo improvisados, caso do folclórico Richarlyson. Todos ficaram pelo caminho. E após mais de um ano sem qualquer convocação, marcado ainda por uma infeliz passagem pelo Tottenham (onde ficou boa parte do tempo relegado ao time B) e o retorno ao futebol brasileiro para uma segunda passagem pelo Cruzeiro, Gilberto acabou de forma surpreendente retornando à Seleção e mais uma vez se garantindo num Mundial em cima da hora.

Deverá travar boa briga pela posição de titular com Michel Bastos, outro lateral-esquerdo de origem que, contudo, há muito tempo, não atua na posição. E seja quem for o vencedor, terá muito trabalho para convencer a opinião pública, ressabiada com a escassez de opções numa posição que até bom pouco atrás era farta em oferta de bons jogadores para a Seleção.


Gilberto da Silva Melo
lateral-esquerdo
Rio de Janeiro (RJ), 25.04.1976
1,80 m
78 kg
Clubes: América-RJ (1993 a 1995), Flamengo (1996/97), Cruzeiro (1998 e desde 2009), Internazionale-ITA (1999), Vasco (1999 a 2001), Grêmio (2002/03), São Caetano (2004), Hertha Berlim-ALE (2004 a 2008) e Tottenham-ING (2008/09).
Títulos: carioca (1996) pelo Flamengo; mineiro (1998) pelo Cruzeiro; brasileiro (2000) e da Copa Mercosul (2000) pelo Vasco; paulista (2004) pelo São Caetano; da Copa das Confederações (2005) e da Copa América (2007) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 33 (1 gol)
Participação em Copas:
2006 (5º lugar) - 1 jogo, 1 gol

Foto: CBF.com.br

Os 23 da Copa (V) - Gilberto Silva: ainda uma muralha?

As categorias de base do tradicional América Mineiro têm rendido bons frutos nos últimos anos, entre eles a conquista da Copa São Paulo de Juniores em 1996. Entre os jogadores revelados pelo Coelho neste período, o principal é sem dúvida Gilberto Silva.

O volante logo conquistou um lugar entre os profissionais do clube, sendo um dos principais destaques na conquista da Série B em 1997. O América teve passagem fugaz pela elite, sendo rebaixado já no ano seguinte, mas Gilberto mostrou qualidades e logo passou a ser objeto de desejo dos arquirrivais Atlético e Cruzeiro.

Após uma longa "novela", que envolveu até briga judicial, o Galo ganhou a disputa e contratou a jovem promessa em janeiro de 2000. Gilberto logo mostrou que era uma realidade, graças a um futebol simples e eficiente, de boa técnica e precisão nos passes, garantindo a proteção à defesa sem maiores estardalhaços. Chegou até a ser improvisado na zaga, mas seu lugar era mesmo a cabeça-de-área.

Depois da grande participação no Brasileiro de 2001, sendo escalado para quase todas as seleções de melhores do campeonato e levando o Atlético às semifinais, sua convocação para a Seleção Brasileira passou a ser exigida por toda a opinião pública mineira. Sua estréia ocorreu na vitória sobre o Chile (2 x 0), em Curitiba, pelas Eliminatórias da Copa da Coréia e Japão, entrando no segundo tempo.

Ganhou um lugar entre os 23 jogadores do técnico Luiz Felipe Scolari após ótimas atuações nos amistosos preparatórios. Mas o que estava bom ia ficar ainda melhor. A triste contusão do titular e capitão Emerson, na véspera da estréia contra a Turquia, deu a Gilberto a chance de ouro de sua carreira. E ele não decepcionou: atuou todas as sete partidas, sem jamais ser substituído, e foi talvez o jogador mais regular da Seleção em toda a Copa.

Durante a vitoriosa campanha do pentacampeonato, o técnico francês Arsène Wenger mostrou-se muito impressionado com o futebol discreto porém eficiente do volante brasileiro. O treinador do Arsenal deu-lhe um apelido bastante apropriado: Invisible Wall ("Parede Invisível") e não sossegou até finalmente levar o jogador para a tradicional equipe londrina, por 9 milhões de dólares, tão logo terminou o Mundial.

No duro futebol inglês, Gilberto logo conquistou a torcida com sua categoria na marcação, recebendo pouquíssimos cartões amarelos e eventualmente fazendo belos gols na frente. Foi peça importante na grande equipe que foi campeã da Premier League de 2003/04 e acumulou longa invencibilidade.

Depois disso, alguns percalços. Gilberto sofreu algumas contusões que lhe custaram a posição de titular na Seleção, perdida para o antigo titular Emerson. Em 2006, na fracassada campanha da equipe de Parreira na Alemanha, praticamente revezaram-se na disputa pela cabeça de área. De certa forma, o mineiro terminou vencedor, atuando na eliminação diante da França e sendo mantido no grupo com a chegada de Dunga.

Após perder a posição no Arsenal, acabou negociado com o Panathinaikos, da Grécia, em 2008. Mas seu lugar na Seleção segue intocável, apesar das críticas de boa parte de imprensa e torcida, que lhe apontam uma certa decadência técnica e lentidão no combate, embora não tenha até hoje chegado efetivamente a comprometer com a camisa amarela.

Superar a desconfiança dos críticos e corresponder em seu terceiro (e provavelmente último) Mundial é o desafio de Gilberto Silva, mostrando que, apesar de já longe do auge, pode ainda assim ser uma útil, embora silenciosa, peça no tabuleiro do técnico Dunga.


Gilberto Aparecido da Silva
volante
Lagoa da Prata (MG), 07.10.1976
1,84 m
74 kg
Clubes: América-MG (1996 a 1999), Atlético-MG (2000 a 2002), Arsenal-ING (2002 a 2008) e Panathinaikos-GRE (desde 2008).
Títulos: brasileiro da Série B (1997) pelo América-MG; mineiro (2000) pelo Atlético; inglês (2004) e da Copa da Inglaterra (2003 e 2005) pelo Arsenal; grego (2010) e da Copa da Grécia (2010) pelo Panathinaikos; mundial (2002), da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 91 (4 gols)
Participação em Copas:
2002 (campeão) - 7 jogos, nenhum gol
2006 (5º lugar) - 4 jogos, nenhum gol

Foto: Getty Images

quinta-feira, maio 27, 2010

Os 23 da Copa (IV) - Juan: elegância na zaga

O carioca Juan Silveira dos Santos sempre se destacou pela categoria e técnica no trato com a bola. Disputando a final do Mundial Sub-17 do Equador, em 1995, contra Gana, marcou um belo gol de calcanhar, mas não evitou a derrota brasileira por 3 x 2. No ano seguinte, foi o vice-artilheiro do Flamengo no Estadual de Juvenis, com 13 gols. Detalhe: era, e ainda é, zagueiro.

Desde sua chegada à Gávea, quando tinha apenas 11 anos, Juan sempre mostrou ser um jogador diferenciado dentro da posição, aliando a boa técnica a uma ótima impulsão e segurança no desarme, apesar do físico esguio e aparentemente franzino. O sucesso estendeu-se à camisa amarela: passou por todas as seleções amadoras. Visto como grande promessa, cedo foi promovido ao time profissional do Flamengo, em 1996, com apenas 17 anos.

Logo a decisão mostrou-se precipitada. Ficando quase sempre na reserva e perdendo ritmo de jogo, Juan não conseguiu manter uma boa seqüência ao entrar na equipe, que estava em péssima fase. Contudo, eventualmente mostrava sua categoria marcando gols decisivos, como o que eliminou o Internacional na Copa do Brasil de 1997 e, principalmente, em um tento belíssimo diante do Olimpia do Paraguai pela extinta Supercopa Libertadores, com uma arrancada fulminante seguida de uma meia-lua no beque adversário e a conclusão na saída do goleiro.

Foi reconduzido aos juniores para ganhar mais experiência. E logo retornou ao quadro principal, em 1999, mesmo ano em que disputou o Sul-Americano e o Mundial Sub-20 pela Seleção. Assumiu a camisa titular e festejou o quarto tricampeonato estadual da história rubro-negra.

Na conquista do tri, tinha a seu lado Gamarra, um de seus melhores "professores" no início da carreira e, igualmente, famoso por esbanjar elegância na posição. O becão paraguaio, do alto de sua experiência, ainda revelou: "Tecnicamente falando, ele é o melhor companheiro de zaga que já tive". Pena que a dupla durou pouco tempo. Gamarra logo foi jogar no AEK Atenas da Grécia e Juan passou a dividir a zaga com jogadores de (muito) menos gabarito, como os estabanados Fernando, Valnei e Leonardo Valença.

Mesmo assim, Juan já havia conquistado destaque suficiente para chegar à Seleção principal. Convocado pela primeira vez por Emerson Leão, seguiu tendo oportunidades com Luiz Felipe Scolari. Sua presença chegou a ser dada como certa no Mundial de 2002, mas na última hora, Felipão surpreendeu, preferindo levar mais um jogador de meio-campo, no caso o corintiano Vampeta, que por sinal estava em péssima fase.

Mal se refez do baque, Juan tomou o rumo do futebol alemão, negociado por 3,2 milhões de dólares com o Bayer Leverkusen. Lá, chegou com moral, comparado ao campeão mundial Aldair, outro ex-rubro-negro que brilhou intensamente na Europa. Tinha ainda a vantagem de atuar numa equipe repleta de brasileiros, entre eles o também beque Lúcio, este integrante da equipe pentacampeã no Japão e na Coréia do Sul.

Logo se firmou e fez uma das melhores duplas de zaga da Alemanha, aliando sua técnica apurada ao estilo mais vigoroso de Lúcio. E o prêmio foi o retorno à Seleção pelas mãos de Carlos Alberto Parreira.

Após boas participações na Copa América de 2004 e na Copa das Confederações do ano seguinte, ambas conquistadas sobre os eternos rivais argentinos, Juan firmou-se como titular da zaga. No Mundial de 2006, reeditou a bem-sucedida parceria que havia estabelecido com Lúcio, já à época defendendo o Bayern Munique. Formaram uma dupla sólida e atuaram em todas as partidas sem jamais serem substituídos, estando entre os poucos jogadores poupados das críticas após mais uma doída eliminação diante dos franceses.

Trocou o Bayer pela Roma no ano seguinte, firmando-se no duro futebol italiano. E a dupla com Lúcio manteve-se inabalável na Seleção. A única dúvida sobre o futuro do ex-flamenguista no Mundial da África do Sul recai sobre sua atual condição física, um tanto incerta após várias contusões musculares sofridas nos últimos anos. Se estas não incomodarem, será uma vez mais garantia de segurança lá atrás.


Juan Silveira dos Santos
zagueiro
Rio de Janeiro (RJ), 01.02.1979
1,82 m
73 kg
Clubes: Flamengo (1996 a 2002), Bayer Leverkusen-ALE (2002 a 2007) e Roma-ITA (desde 2007).
Títulos: carioca (1999/2000/01), da Copa Mercosul (1999) e da Copa dos Campeões (2001) pelo Flamengo; da Copa da Itália (2008) pela Roma; da Copa América (2004 e 2007) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 75 (7 gols)
Participação em Copas:
2006 (5º lugar) - 5 jogos, nenhum gol

Foto: Getty Images

quarta-feira, maio 26, 2010

Os 23 da Copa (III) - Lúcio: raça e liderança

Uma goleada humilhante deu a Lucimar Ferreira da Silva a chance de se projetar para o futebol brasileiro e, depois, para o mundo. O então jovem zagueiro do modesto Guará, clube da Capital Federal, fez parte da equipe que enfrentou o Internacional em fevereiro de 1997, pela Copa do Brasil, no acanhado Estádio da Cave. O Colorado foi impiedoso: aplicou sonoros 7 x 0 e eliminou o humilde rival sem a necessidade da disputa da partida de volta. Contudo, o técnico Celso Roth ficou impressionado com o futebol do camisa 3 adversário, e fez questão de levá-lo a Porto Alegre.

Lá, Lucimar se tornou simplesmente Lúcio. Aprovado nos testes, ficou em definitivo no Beira-Rio e, por ser ainda muito jovem, foi ganhar experiência nos juniores. Suas primeiras incursões no time principal se deram no Brasileiro de 1999, em uma equipe que esteve ameaçadíssima de rebaixamento. Lúcio deu sua contribuição, marcando um importantíssimo gol numa vitória sobre a Ponte Preta. E no final, um dramático 1 x 0 sobre o Palmeiras, gol do veterano Dunga, em jogo que teve direito até a um suspeitíssimo apagão, o Colorado pôde enfim respirar tranquilo.

Na temporada seguinte, com uma equipe um pouco melhor armada, Lúcio assumiu a condição de titular e logo se destacou. Seu futebol de grande luta e entrega durante os 90 minutos agradaram em cheio ao torcedor. As arquibancadas ainda vibravam com suas constantes arrancadas ao ataque, que eventualmente rendiam belos gols, como um tirambaço de fora da área que fulminou o Corinthians na Copa JH, o (patético) Campeonato Brasileiro daquele ano.

Também em 2000, Wanderley Luxemburgo o convocou para a Seleção que disputaria os Jogos Olímpicos de Sydney. Até hoje muitos lamentam que Lúcio tenha sido reserva de uma zaga titubeante formada por Fábio Bilica e Álvaro. Mas o becão teve sua chance de aparecer na fatídica eliminação diante de Camarões, nas quartas-de-final: após dar uma de suas costumeiras arrancadas, tabelar com Roger (então do Fluminense e atualmente no Cruzeiro) e não receber a bola de volta, enfureceu-se e após ríspida discussão, desferiu uma cabeçada no rosto do meia carioca. A cena inusitada dividiu opiniões pelo Brasil: uns condenaram enfaticamente, outros aplaudiram o zagueirão.

O ato de indisciplina não o prejudicou na Seleção, pelo contrário. Um dos poucos que saíram de Sydney sem arranhões na imagem, Lúcio logo garantiu um lugar na equipe principal, primeiro na fugaz passagem de Emerson Leão, depois com Luiz Felipe Scolari. E deu adeus ao Inter em janeiro de 2001, negociado com o Bayer Leverkusen, clube alemão famoso por suas constantes apostas em jogadores brasileiro.

Na Alemanha, Lúcio se firmou rapidamente e virou unanimidade entre torcedores e jornalistas. O problema era a "zica" que teimava em não largar seu clube: na temporada 2001/02, o Bayer amargou nada menos que três vice-campeonatos, no campeonato nacional, na Copa da Alemanha e, especialmente, na Liga dos Campeões, título perdido graças a um gol antológico, de sem-pulo, do cracaço francês Zinedine Zidane, do Real Madrid.

A Copa do Mundo do Japão e da Coréia do Sul era a oportunidade de ouro para Lúcio salvar aquela temporada infeliz. Titular absoluto do técnico Felipão, apesar de algumas escorregadas nas Eliminatórias e amistosos preparatórios, Lúcio disputou um Mundial regularíssimo, salvo por um lance: contra a Inglaterra, pelas quartas-de-final, cometeu uma falha grotesca e permitiu a Owen abrir o marcador; para sua sorte, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho salvaram a pátria aquele dia e garantiram a classificação. Na semifinal contra a Turquia e, principalmente, na final contra a Alemanha, duas atuações seguríssimas garantiram a Lúcio recuperar o crédito com a torcida. O penta salvou o 2002 do becão.

Parreira reassumiu o selecionado, mas Lúcio permaneceu entre os titulares, embora sempre contestado. A torcida o acusava de ser atabalhoado, até mesmo raçudo em demasia, com suas avançadas constantes para o ataque e os botes impensados nos atacantes. Mas na Alemanha, ele já era rei: em 2004, foi negociado com o poderoso Bayern Munique por nada desprezíveis 12 milhões de euros. E, diante da maior torcida da Alemanha, seu cartaz só fez crescer. Para melhorar ainda mais, pôde, nas temporadas seguintes, enfim comemorar os títulos que teimavam em lhe escapar nos tempos de Leverkusen.

O reconhecimento do torcedor brasileiro veio no Mundial de 2006, no mesmo país onde atuava e que já reconhecia seu talento. Formando uma dupla impecável com Juan, Lúcio garantiu a segurança da zaga e, apesar de mais uma doída derrota para a França de Zidane, foi dos poucos jogadores daquele grupo a saírem da Copa sem qualquer chamuscão. De quebra, ainda bateu o recorde do paraguaio Gamarra, estabelecido em 1998, de minutos jogados sem cometer qualquer falta: foram 386, 3 a mais que o estabelecido pelo clássico defensor da Albirroja. A primeira infração no torneio veio apenas aos 25 minutos da fatídica partida das quartas-de-final contra Les Bleus.

Depois disso, enfim uma unanimidade, arrebatou a faixa de capitão. Foi o herói da conquista da Copa das Confederações, em 2009, com um golaço de cabeça quase no final que estabeleceu a dramática virada sobre os Estados Unidos na decisão. Devido à chegada do técnico holandês Louis Van Gaal, notório por seus desentendimentos com jogadores brasileiros nas equipes que dirigiu, em especial o Barcelona nos anos 90, trocou o Bayern pela igualmente campeoníssima Internazionale de Milão, onde fez uma temporada perfeita: a tríplice coroa, com direito à reconquista do título europeu após 45 anos de espera, e a titularidade absoluta em uma equipe estrelada até no banco de reservas.

Novamente fazendo dupla com o refinado Juan, Lúcio chega à sua terceira Copa tendo, pela primeira vez em um Mundial, a admiração e confiança irrestrita do futebol brasileiro. Erguer a taça, no dia 11 de julho, será a cereja do bolo.


Lucimar Ferreira da Silva
zagueiro
Brasília (DF), 08.05.1978
1,88 m
80 kg
Clubes: Guará-DF (1996/97), Internacional (1998 a 2000), Bayer Leverkusen-ALE (2000 a 2004), Bayern Munique-ALE (desde 2004) e Internazionale-ITA (desde 2009).
Títulos: alemão (2005/06 e 2008) e da Copa da Alemanha (2005/2006 e 2008) pelo Bayern Munique; italiano (2010), da Copa da Itália (2010) e da Liga dos Campeões da Europa (2010) pela Internazionale; mundial (2002) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira
Jogos pela Seleção: 93 (5 gols)
Participação em Copas:
2002 (campeão) - 7 jogos, nenhum gol
2006 (5º lugar) - 5 jogos, nenhum gol


Foto: AP Photo

quinta-feira, maio 20, 2010

Os 23 da Copa (II) - Maicon: força e velocidade pela direita


Maicon Douglas Sisenando nasceu predestinado a ser jogador. Seu pai, Manoel, era um vigoroso defensor do Novo Hamburgo, o tradicional "Nóia", equipe da cidade gaúcha de mesmo nome distante 42km de Porto Alegre. Sonhando ver o garoto e seu gêmeo Marlon trilhando o mesmo caminho, utilizou-se de uma curiosa simpatia: pegou os cordões umbilicais dos filhos e os enterrou no gramado do Estádio Santa Rosa.

Logo a família mudou-se para Santa Catarina, estabelecendo-se em Criciúma, a famosa "Capital do Carvão". Pequeno e mirrado quando garoto, bem ao contrário do "tanque" de agora, iniciou sua trajetória nos gramados pelas categorias de base da equipe local, aos 13 anos. O irmão Marlon, seu companheiro no início da caminhada, logo viria a desistir do sonho de ser jogador, optando por se dedicar integralmente aos estudos e formar-se em Educação Física.

Deslocado do meio-campo para a lateral-direita, encontrou a posição ideal para exercer seu futebol marcado por um misto de velocidade, vigor físico e, porque não, alguma habilidade. Chamou a atenção do Cruzeiro, que o levou ainda amador para Minas. E logo chegaria às seleções de base, sendo titular da equipe Sub-20 do Brasil campeã sul-americana da categoria e que disputou o Mundial na Argentina em 2001, ao lado de outras futuras estrelas, como Kaká e Adriano.

Em 2003, chegou à equipe pré-olímpica, disputando torneios no Qatar e Estados Unidos, e começando a garantir sua posição visando os Jogos de Atenas. No clube, ainda aguardava por uma chance real de ser titular: após disputar a posição por duas temporadas com jogadores como Neném e Ruy "Cabeção", via do banco o ex-santista Maurinho "voar" em campo e brilhar junto com o resto do belo time que ganhou a "Tríplice Coroa" naquele ano.

Começou 2004 em boa fase. O Brasil decepcionou no Pré-Olímpico do Chile e não conseguiu vaga para a competição na Grécia. Contudo, Maicon atuou bem e até fez um gol de placa, diante do Paraguai, que alguns até compararam ao marcado por Maradona diante da Inglaterra na Copa de 1986. Aproveitando-se de um momento de deslumbramento e início de má-fase de Maurinho, ganhou a camisa 2 titular do Cruzeiro.

Não teve muito tempo para apreciá-la, sendo logo negociado com o Monaco. Ao mesmo tempo, iniciava sua trajetória na Seleção principal, sendo campeão da Copa América no mesmo ano; já em 2005, perdeu na Copa das Confederações a disputa para o são-paulino Cicinho pela reserva de Cafu e, consequentemente, a chance de fazer parte do grupo de Parreira no Mundial da Alemanha.

Depois de dois bons anos no Monaco, chegou à Inter de Milão, e o momento não poderia ser melhor. Começava ali o domínio humilhante que os nerazzuri impõem a seus rivais da Bota até os dias de hoje. Maicon, antes visto por muitos por um jogador tão atabalhoado e grosso quanto forte e veloz, começou uma incrível evolução como atleta, agora firme na marcação, de eficiência bastante satisfatória nos cruzamentos e chutes temíveis de longa distância.

Não demorou a tomar conta da 2 da Seleção, aproveitando-se da timidez inicial com a amarelinha do principal concorrente, Daniel Alves, que brilhava intensamente no Sevilla mas não repetia nem de longe o mesmo desempenho na equipe de Dunga. O ex-jogador do Bahia firmou-se no grupo com o tempo, mas aí já era tarde para roubar a posição de Maicon.

Hoje, o ex-cruzeirense é tido como peça indispensável ao esquema tático da Seleção, ajudando a "desafogar" o jogo com suas arrancadas pela direita. E talvez até venha a atuar ao lado de seu, por enquanto, reserva, cujo aproveitamento no meio-campo tem se mostrado bastante viável e não descartado pelo treinador. Sorte do Brasil, que conta talvez com os dois melhores laterais-direitos do mundo na atualidade ao mesmo tempo.


Maicon Douglas Sisenando
lateral-direito
Novo Hamburgo (RS), 26.07.1981
1,84 m
77 kg
Clubes: Cruzeiro (2001 a 2004), Monaco-FRA (2004 a 2006) e Internazionale-ITA (desde 2006).
Títulos: mineiro (2003/04), do Supercampeonato Mineiro (2002), brasileiro (2003), da Copa do Brasil (2003) e da Copa Sul-Minas (2001/02) pelo Cruzeiro; italiano (2007/08/09/10) e da Copa da Itália (2010) pela Internazionale; sul-americano Sub-20 (2001), da Copa América (2004 e 2007) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 69 (6 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

quarta-feira, maio 19, 2010

Os 23 da Copa (I) - Júlio César: segurança extrema


Perto de completar 31 anos, Júlio César ainda é relativamente jovem, especialmente para os padrões de um goleiro, posição normalmente de grande longevidade. Ao mesmo tempo, é certamente um jogador de grande experiência. Sua estréia profissional no Flamengo deu-se já aos 17 anos, em maio de 1997, justamente em um clássico contra o Fluminense, no Maracanã.

Substituindo o veterano Zé Carlos, não comprometeu, apesar da derrota por 2 x 0. Pelo contrário: fez ótimas defesas e até pegou um pênalti. Foi imediatamente profissionalizado, passando a ser reserva imediato do também experiente Clemer, contratado no mesmo ano para substituir o antigo titular, que foi para o Vitória.

Em 1999, defendeu a Seleção Brasileira Sub-20 na disputa dos campeonatos sul-americano e mundial da categoria (no segundo, perdeu a posição de titular às vésperas da competição para Fábio, atualmente no Cruzeiro). E a cada falha do inconstante Clemer, seu nome era pedido pela torcida rubro-negra para assumir a camisa 1, o que finalmente ocorreu durante a Copa João Havelange, no ano seguinte.

Em 2001, ajudou o Fla nas conquistas do tricampeonato estadual e da Copa dos Campeões. E começou a ser convocado para a Seleção principal, como terceiro goleiro, atrás de Marcos e Dida. Seu nome era dado como certo no Mundial de 2002, no Japão e na Coréia do Sul, pois Luiz Felipe Scolari tinha o objetivo de levar um arqueiro jovem, a fim de “prepará-lo” para uma possível titularidade na Copa seguinte.

Contudo, a imaturidade de Júlio César acabou jogando contra. Deslumbrado e considerando-se garantido no grupo, soltou declarações pouco humildes em algumas entrevistas, o que acabou irritando Felipão. O treinador acabou, enfim, levando o são-paulino Rogério Ceni para o lugar. Para compensar a frustração, Júlio deu-se bem no campo pessoal, casando-se na mesma época com a bela atriz e modelo Suzana Werner, (ex de Ronaldo “Fenômeno”), com quem está até hoje.

Seguiu seu trabalho no Flamengo, como ídolo inconteste da galera rubro-negra. Seu amor sincero pelo clube, porém, vez ou outra proporcionava situações constrangedoras. Na semifinal do Estadual de 2003, sofrendo uma goleada impiedosa (0 x 4) diante do Fluminense, tendo falhado em pelo menos um dos gols, e após ver o rival dar um “olé” humilhante, tocando a bola de pé em pé por quase dois minutos, Júlio César roubou a bola de um atacante tricolor e arrancou com ela nos pés até o campo de ataque, quase proporcionando um contra-ataque e mais um gol adversário. Após a partida, foi duramente criticado por Evaristo de Macedo e reagiu desastradamente contra o veterano treinador, chamando-o de “burro”. Depois, voltaram às boas.

Com o retorno de Parreira e Zagallo (que o guindou à condição de titular no Flamengo) à Seleção, Júlio continuou sendo chamado, agora como reserva imediato de Dida. A imprensa (logicamente, a de fora do Rio...) nunca gostou muito da idéia. Logo surgiram rumores de que o rubro-negro só estaria sendo chamado por ter como seu procurador Paulo Zagallo, justamente o filho do auxiliar-técnico da Seleção.

As críticas só cessaram um pouco com a Copa América de 2004. Titular na competição graças à ausência de Dida (bem como dos demais “estrangeiros” titulares, poupados por Parreira), destacou-se durante todo o torneio, especialmente com os pênaltis defendidos na semifinal diante do Uruguai (reabilitando-se de um frango sofrido no tempo normal) e na final contra a Argentina, ajudando a garantir o título.

Com o final do contrato com o Flamengo, rumou para a Europa. Assinou com a tradicional Internazionale de Milão, passando antes por um “estágio” de seis meses no Chievo de Verona. Aproveitando-se da contusão do veterano titular Toldo, ganhou a posição de titular, mantida até hoje e só perdida por um breve período no final da temporada 2005/06.

Esteve entre os 23 na Copa da Alemanha, condição que não chegou a correr riscos; afinal, Parreira sempre deixou muito claro que não tinha interesse em chamar três goleiros veteranos, como ocorreu em 2002, preferindo chamar pelo menos um jogador mais jovem. Sem perspectivas de atuar naquele Mundial, contentou-se com a segunda suplência do gol, de olho firme na possível titularidade de 2010, já sabendo que dificilmente teria que enfrentar novamente a forte concorrência dos experientes Dida, Marcos e Rogério Ceni.

E assim ocorreu. Após algumas chances concedidas pelo iniciante técnico Dunga a outros arqueiros, como Gomes e Doni, assumiu definitivamente a camisa 1 da Seleção após a Copa América, jamais tendo corrido qualquer risco de perdê-la desde então. Atingiu seu auge em uma campeoníssima Inter que, impulsionada pelos investimentos nada modestos e até exagerados do presidente Moratti, além da decadência pós-CalcioCaos dos rivais Milan e Juventus, saltou de um jejum de 17 anos sem conquistas nacionais para o atual pentacampeonato italiano e uma iminente reconquista do título europeu após 45 temporadas. Após atuações de gala por seu clube e pelo Brasil, em especial contra o Equador, quando salvou a Seleção de uma derrota acachapante, atingiu a unanimidade nacional, inclusive perante a opinião pública paulista que tanto o contestava alguns anos antes.

Tido por muitos órgãos de imprensa internacionais como um dos três melhores goleiros do mundo na atualidade (quando não o melhor), Júlio César é uma das peças vitais da equipe que Dunga escalará na Alemanha. O título mundial, no ápice de sua carreira, certamente significaria sua consagração definitiva como um dos maiores nomes da posição na história do futebol brasileiro.


Júlio César Soares Espíndola
goleiro
Rio de Janeiro (RJ), 03.09.1979
1,86 m
79 kg
Clubes: Flamengo (1997 a 2004), Chievo-ITA (2005) e Internazionale-ITA (desde 2005).
Títulos: carioca (1999/2000/2001 e 2004), da Copa dos Campeões (2001) e da Copa Mercosul (1999) pelo Flamengo; italiano (2006/07/08/09/10) e da Copa da Itália (2006 e 2010) pela Internazionale; da Copa América (2004) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 47 (31 gols sofridos)

Participação em Copas:
2006 (5º lugar) - nenhum jogo

Foto: Getty Images

domingo, janeiro 10, 2010

O matador de invictos


Maracanã, 20 de julho de 1978. O Botafogo recebia o Grêmio de olho em uma vaga na fase final do Brasileirão. Além disso, defendia uma invencibilidade de nada menos que 52 partidas, construída desde setembro do ano anterior.

Mas o tricolor gaúcho levou a melhor: 3 x 0, com gols de Leandro (pai do volante Leanderson, ex-Grêmio e Sport) e Renato Sá (2). Fim da série invicta e o resultado foi decisivo para a eliminação botafoguense.

Maracanã, 03 de junho de 1979. Flamengo e Botafogo faziam mais um clássico pelo Estadual, diante de 139 mil torcedores que abarrotavam o ainda "maior do mundo". O rubro-negro defendia uma invencibilidade de 52 partidas.

Final: Botafogo 1 x 0, gol do mesmo Renato Sá que havia sido o algoz alvinegro quase um ano antes.

Revelado pelo Avaí, o ponta-esquerda Renato Sá ainda passou por times como Vasco, Atlético-MG e Atlético-PR. É casado com Fernanda, filha do ex-governador e ex-senador catarinense Jorge Bornhausen.