segunda-feira, dezembro 03, 2012

O mapa do Brasileirão em 2013

Série A:
RS (2): Grêmio e Internacional
SC (1): Criciúma
PR (2): Coritiba e Atlético
SP (5): São Paulo, Corinthians, Santos, Portuguesa e Ponte Preta
RJ (4): Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense
MG (2): Atlético e Cruzeiro
GO (1): Goiás
BA (2): Bahia e Vitória
PE (1): Náutico
20 clubes, 9 Estados


Série B:
SC (4): Avaí, Figueirense, Joinville e Chapecoense
PR (1): Paraná
SP (5): Palmeiras, São Caetano, Bragantino, Oeste e Guaratinguetá
MG (2): América e Boa Esporte
GO (1): Atlético
AL (1): ASA
PE (1): Sport
RN (2): ABC e América
CE (2): Ceará e Icasa
PA (1): Paysandu
20 clubes, 10 Estados


Série C:
RS (1): Caxias
SP (3): Guarani, Mogi Mirim e Barueri
RJ (3): Duque de Caxias, Madureira e Macaé
MG (1): Betim (¹)
GO (2): Vila Nova e CRAC
DF (1): Brasiliense
MT (2): Cuiabá e Luverdense
AL (1): CRB
PE (1): Santa Cruz
PB (1): Treze (²)
RN (1): Baraúnas
CE (1): Fortaleza
MA (1): Sampaio Corrêa
PA (1): Águia
20 clubes, 14 Estados (incluindo o DF)


Série D:
Quatro equipes rebaixadas da Série C 2012 - Guarany-CE, Salgueiro-PE, Tupi-MG e Santo André-SP
5º colocado da Série D 2012 - Cianorte-PR
Cada uma das 27 federações estaduais - 1 vaga
32 clubes, 27 Estados (incluindo o DF)


(¹) Ex-Ipatinga.
(²) Sub judice.


Curiosidades:
- Apenas quatro Estados têm representantes em todas as quatro divisões: São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Pernambuco. Outros sete Estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará e Pará) estão presentes em três divisões. Já os Estados de ES, MS, SE, PI, TO, AP, RR, AC e RO contam apenas com seus solitários representantes na Série D, sendo os menos expressivos dentro do mapa.
- São Paulo é o Estado com mais clubes distribuídos pelas quatro séries, 15 no total. Rio de Janeiro, com 8 equipes, e Minas Gerais, com 7, vêm a seguir.
- O maior "abismo" de representação vem da Bahia, que conta com dois times na Série A (a dupla Ba-Vi), mas apenas mais uma outra equipe, na "longínqua" Série D.


Foto: Jogo Atlético-PR x Sampaio Corrêa pela Copa do Brasil de 2012, equipes que depois acabariam promovidas, respectivamente, da Série B para a A, e da D para a C. Crédito: Lance!

quinta-feira, julho 26, 2012

Todos em festa: algo raro


O recente título palmeirense na Copa do Brasil, além de trazer uma paz (ao menos temporária) ao time de Palestra Itália, ainda fez surgir uma forte pressão sobre quem não andava mais tão acostumado a ela: campeão brasileiro em dezembro de 2008, ou seja, há três anos e sete meses, o São Paulo é agora, dentre os doze maiores clubes do País, o que está há mais tempo sem conquistar um título oficial.


Soa bastante irônico quando lembramos da trajetória tricolor no período 2005-2008. Após reconquistar a América e o mundo em 2005, o São Paulo iniciou um domínio sem precedentes no Campeonato Brasileiro, comandado pelo “especialista em pontos corridos” Muricy Ramalho. Se o futebol pouquíssimo vistoso aos olhos, de muitas bolas cruzadas na área e forte sistema defensivo (o popular “muricyball”) imposto pelo treinador não conseguia maior sucesso em competições de mata-mata (em especial na Libertadores, e coincidentemente sempre contra outros times brasileiros), no Brasileiro, entretanto, parecia até ser destinado a ter êxito eterno.

Mas Muricy se foi em 2009, após mais um fracasso na Libertadores, e o São Paulo iniciou sua seca. E embora um jejum de menos de quatro anos nem pareça tão grave em um País que conta com tantas equipes de tradição para brigar pelas taças, a paciência do torcedor dá cada vez mais mostras de ter se esgotado.

O cenário é agravado pelo momento dos rivais. O Corinthians acabou de ganhar sua primeira Libertadores e também a alforria de muitas gozações; o Santos lamentou a perda de seu quarto título continental, mas ficou com o consolo do tricampeonato estadual; e o Palmeiras, nos últimos tempos o achincalhado “patinho feio” da turma, ressurgiu com a conquista, até bem poucos dias atrás inesperada, da Copa do Brasil.

O São Paulo tem ainda duas chances de “salvar” seu 2012: o Campeonato Brasileiro e a Copa Sul-Americana. Se levar pelo menos um dos dois troféus, igualará um feito que foi alcançado apenas uma vez na história, em 1998, quanto todos os quatro principais times paulistas conseguiram conquistar títulos oficiais em uma mesma temporada.

Na ocasião, o São Paulo foi campeão estadual, em maio daquele ano, batendo o Corinthians na decisão por 3 x 1, em jogo que marcava o retorno do ídolo Raí, de volta após cinco temporadas no futebol francês. O Tricolor campeão alinhava Rogério Ceni, Zé Carlos, Capitão, Márcio Santos (Bordon) e Serginho; Alexandre, Fabiano, Raí (Aristizábal) e Carlos Miguel (Gallo); França e Denílson. O técnico era Nelsinho Baptista.

No final daquele mesmo mês, o Palmeiras conquistou sua primeira Copa do Brasil, devolvendo ao Cruzeiro a traumática derrota na decisão de 1996, quando era favorito absoluto. O time de Luiz Felipe Scolari, que conquistaria a Libertadores na temporada seguinte, arrebatou o troféu atuando com Velloso, Neném, Roque Júnior, Cléber e Júnior; Galeano, Rogério, Alex (Arílson) e Zinho; Paulo Nunes (Almir) e Oséas (Pedrinho).

Em outubro, foi a vez do Santos, treinado por Emerson Leão, levar o troféu da Copa Conmebol, ao segurar um difícil empate sem gols contra o Rosário Central, na Argentina, após vencer na ida por 1 x 0. O Peixe conquistou a competição, que seria extinta no ano seguinte, jogando com Zetti, Ânderson Lima, Sandro, Claudiomiro e Athirson; Marcos Basílio, Narciso, Élder e Eduardo Marques; Alessandro Cambalhota (Adiel) e Fernandes (Baiano).

Em 23 de dezembro, o Corinthians faturou o Brasileirão, o segundo de sua história, ao bater o Cruzeiro por 2 x 0 no Morumbi. Vanderlei Luxemburgo era o comandante do alvinegro, que naquele dia atuou com Nei, Índio, Gamarra, Batata (Cris) e Silvinho; Vampeta, Rincón, Marcelinho Carioca e Ricardinho (Amaral); Mirandinha (Dinei) e Edílson.

Por fim, já no dia 29 de dezembro, o Palmeiras arrebatou mais um caneco, desta vez o da Copa Mercosul, cuja primeira edição foi jogada naquele ano, e desta forma assumindo um “título simbólico” entre os grandes paulistas na temporada 1998. Mais uma vez, o Cruzeiro foi a vítima, batido por 1 x 0 no Palestra Itália. Felipão mandou a campo Velloso, Arce, Júnior Baiano, Roque Júnior e Júnior; Tiago Silva, Rogério, Alex (Almir) e Zinho (Agnaldo); Paulo Nunes e Oséas (Pedrinho).


Fotos: Reuters / Gazeta Press / Lance!

quarta-feira, julho 11, 2012

Não vai acabar

23 de abril de 2011. Em pleno estádio Durival Britto e Silva, a histórica Vila Capanema que até sediou partidas de Copa do Mundo no longínquo 1950, o Paraná Clube empata com o modesto Arapongas por 2 x 2 e é rebaixado para a Série Prata, nada menos que a segunda divisão do Campeonato Paranaense. Destino inacreditável e inconcebível para quem praticamente monopolizou o futebol local ao longo da década de 90, e mesmo na década passada teve seus momentos de brilho, culminando com uma honrosa participação na Libertadores em 2007.

03 de julho de 2012. No mesmo palco onde viveu quinze meses antes o maior vexame de sua história, o Tricolor goleia o Grêmio Maringá por 4 x 1, conquista a Série Prata com três rodadas de antecedência e sacramenta o retorno à elite Estadual. A campanha do acesso, até a partida do título, é irrepreensível: 15 partidas, 14 vitórias e apenas um empate, com 95,55% de aproveitamento (e na última sexta-feira, nova vitória, 2 x 1 sobre o Foz do Iguaçu, veio a ampliar ainda mais tais números).

Nada mais que a obrigação? É certo que o Paraná era praticamente um “corpo estranho” dentro de uma competição tão fraca tecnicamente, e a disparidade absurda em relação aos demais times tornavam imperativo seu acesso. A postura da maior torcida organizada do clube, que abandonou o estádio logo no início do segundo tempo da partida contra o Grêmio Maringá em sinal de protesto contra a diretoria anterior, reforça ainda mais esta ideia.

Não dá para tirar toda a razão dos torcedores: cair em uma competição estadual tão fraca quanto o Paranaense é algo que jamais poderia se permitir a uma equipe tão tradicional. Mas o protesto não deixou, por outro lado, de ser uma certa indelicadeza com os atuais elenco e comissão técnica, quase totalmente mudados em relação a 2011, e que tão bem vêm cumprindo seu trabalho.

Agora, o olhar é voltado para o futuro. Após um início titubeante, o Paraná vem experimentando um nítido crescimento na Série B, graças principalmente ao reforço dos recém-chegados Anderson, Zé Luís, Ricardo Conceição e Lúcio Flávio, “veteranos” que vieram para dar mais “cancha” a um elenco repleto de jovens. Aparentemente, com mais dois ou três reforços pontuais, a equipe estará pronta para brigar por mais este acesso.

Mas, mais que o sonhado retorno à Série A, o mais importante neste momento parece ser mesmo “arrumar a casa”. E o Tricolor, com nova direção, um técnico jovem e mais que identificado com o clube, e o potencial de uma torcida apaixonada e de uma base que ainda consegue revelar bons nomes (mesmo nos últimos e difíceis anos, saíram de lá vários reforços para grandes equipes, como Everton, Brinner, Rodrigo Pimpão, Kelvin e, claro, Giuliano, peça fundamental na conquista da Libertadores pelo Inter em 2010 e atualmente no futebol ucraniano), parece ser mais que capaz de retomar seus melhores dias. O canto provocativo “o Paraná vai acabar”, tão entoado nos últimos tempos por atleticanos e coxas-brancas, começa a fazer cada vez menos sentido.

Foto: Globo Esporte

segunda-feira, julho 02, 2012

Chance de salvação. Ou mero “descanso”

Considerado o “Campeão do Século” do futebol brasileiro no século XX (por ter conquistado ao menos uma vez todos os campeonatos de âmbito nacional já disputados até hoje), o Palmeiras, para o desgosto de seu apaixonado torcedor, tem um desempenho inversamente proporcional neste século XXI. De 2001 para cá, foram apenas dois títulos oficiais (um deles, a dispensável Série B), uma sucessão de times modestíssimos, nada dignos de sua gloriosa história, eliminações vexatórias em confrontos de “mata-mata”, dinheiro gasto a rodo sem critério tampouco retorno, enfim, tudo isto como consequência óbvia e cruel da constrangedora incompetência dos dirigentes.

Uma nova oportunidade de redenção virá a partir do próximo dia 5, quando a equipe de Luiz Felipe Scolari começará a decidir a Copa do Brasil contra o encardido Coritiba. Por diversos fatores, o título é visto de forma especial por todos no Palestra.

Em primeiro lugar, trata-se da última edição da Copa do Brasil como verdadeiro “atalho” para a Libertadores do ano seguinte. A partir de 2013, a competição ganhará mais participantes, durará praticamente o ano todo e terá de volta, a partir das oitavas-de-final, os times brasileiros que disputarem a Libertadores no mesmo ano. A moleza, se que é ainda existia, acabará de vez.

A Copa também surge como única chance real de comemorar algo ainda este ano. Sofrendo no Brasileiro (onde ter elenco é fundamental), o Palmeiras já começa a vislumbrar a possibilidade de mais uma vez ter que brigar para apenas ficar no modesto bloco intermediário; a Copa Sul-Americana, que se inicia em agosto, seria a outra opção, mas o desânimo que deve abater o clube em caso de fracasso na decisão da Copa do Brasil pode ajudar a abreviar a campanha de cara.

Vencer a Copa do Brasil garantiria, além da hoje tão rara festa do título, a vaga na Libertadores com mais de seis meses de antecipação, tranquilizando o elenco e a torcida para o restante do Campeonato Brasileiro e permitindo planejar com antecedência as contratações e toda a logística de trabalho em 2013. O exemplo do Vasco, ganhador da competição ano passado, e que se mantém bem e em relativo alto-astral até hoje, está bem vivo na memória.

O momento da conquista também pode ser bastante propício em termos comerciais. A nova Arena que substituirá o velho estádio Palestra Itália está com suas obras a pleno vapor e aguardando investimentos de vulto, e a empolgação do torcedor com o eventual troféu poderia ainda impulsionar o novo plano associativo lançado na última semana.

O título é, também, talvez a última chance para personagens como Felipão e Valdivia justificarem seu retorno e seus salários de nível europeu. Difícil imaginá-los sobrevivendo a novo fracasso, especialmente o treinador, que já antecipou não desejar renovar o contrato que se encerra em dezembro próximo.

Perder a Copa do Brasil tem tudo para ser desastroso para o Palmeiras. Desanimado, tendo o restante de um Campeonato Brasileiro duríssimo para enfrentar e sem poder alimentar a esperança de atingir as metas sonhadas, combalido por mais crises e brigas de dirigentes e conselheiros mais interessados em alimentar o próprio ego do que no próprio bem da agremiação, e talvez perdendo os poucos grandes nomes que ainda lhe restam, o time corre, até mesmo, o risco de repetir o vexame máximo vivido dez anos atrás.

E ganhar a Copa do Brasil, salvará o Verdão? Difícil dizer. A esta altura, tamanho é o sofrimento do torcedor que o título se torna obrigatório para, ao menos, devolver-lhe um pouco da alegria e fazê-lo esquecer um pouco das tragédias que o acometem sem piedade nos últimos anos. Na verdade, a conquista por si só não representa qualquer garantia de "cura": caso siga unida à eterna bagunça e descaso reinantes nos bastidores do clube, acabará tendo mais ou menos o mesmo efeito de uma visita dos Doutores da Alegria a uma criança com câncer terminal: o paciente fica feliz, ri, deixa por um momento as mazelas de sua triste vida de lado mas, tão logo passa a empolgação, se dá conta de que continua irremediavelmente condenado...

domingo, julho 01, 2012

Sim, são doze


Eis o primeiro post de opinião (e não apenas meramente narrativo) do blog. Espero que apreciem, pois o tema escolhido para a inauguração é bastante polêmico.

Tão tradicional no futebol quanto o gol, a polêmica de arbitragem e a festa das torcidas, a provocação clubística é uma verdadeira instituição no esporte, e se renova com o tempo. Não há dúvida de que o advento da internet serviu, entre tantas outras coisas, também para lhe dar um novo fôlego.

As provocações também se atualizam com o tempo e os costumes, e novas “armas” são adotadas pelos torcedores para atingir os rivais. Mas uma em particular parece especialmente nova e não era vista, ao menos de forma ostensiva, nos, a esta altura, aparentemente longínquos tempos “pré-internet”: a contestação, a qualquer custo, da tradição do rival (“meu time é maior que o seu”, “seu time é pequeno”...).

E uma antiga e, até bem pouco tempo atrás, indiscutível, convenção do futebol brasileiro começa a ser perigosamente ameaçada nestes tempos modernos: a dos doze grandes times nacionais (os quatro maiores de SP – São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos; os quatro do RJ – Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense; os dois de MG – Atlético e Cruzeiro; e os dois do RS – Grêmio e Internacional). O perigo, aqui, é que tal ideia começa, mesmo que ainda de forma tímida, a perigosamente ultrapassar as fronteiras das galhofas dos geraldinos (que, importante frisar, não têm o menor compromisso com qualquer outro clube que não o seu e, portanto, têm todo o direito e, porque não, a obrigação, de ser “sem noção”) e a invadir as opiniões faladas e escritas de jornalistas, blogueiros, comunicadores e outros “formadores de opinião” (em maior ou menor escala) em geral.

Como não podia deixar de ser, sofre mais quem está em momento de jejum de títulos ou vivendo épocas sucessivas de crise. Botafogo e Atlético-MG são as bolas da vez. Tendo cada um apenas um título nacional desde 1971 e vivendo de conquistas estaduais ultimamente apenas ocasionais (o que é ainda mais grave no caso do Galo Mineiro, que tem a rigor apenas um rival à altura em sua região), ambos os alvinegros são frequentemente apontados, inclusive por gente com alguma reputação na mídia, como exemplos de “novos times médios”, indignos da tradição que lhes é conferida.

Mas, como sabemos, provocação clubística e coerência não são exatamente próximas. O Fluminense, até outro dia colocado na mesma barca do Fogão e do Galo, subitamente deixou de ter sua tradição discutida após as conquistas da Copa do Brasil de 2007 e, especialmente, do Brasileiro de 2010. Até então, vinha tendo sua grandeza impiedosamente posta em cheque, mesmo tratando-se de uma agremiação com títulos nacionais e que era, até 2008, a maior vencedora em seu Estado.

Teriam meros dois títulos a propriedade mágica de tornar um clube médio um grande ou, então, de fazê-lo voltar a ser? Não.

Há ainda os que usam a Libertadores (indiscutivelmente a maior competição de nosso continente, mas ultimamente superestimada a ponto de vermos fatos ridículos como o Campeonato Brasileiro sendo tratado quase como uma mera seletiva para ela ou, pior, times escalando equipes reservas em clássicos porque três dias depois enfrentarão um semi-amador “esquadrão” boliviano ou equatoriano em casa) como uma “linha de corte”: só quem a ganhou é considerado grande. E isso atinge, em especial, o Corinthians, logo o time de segunda maior torcida do País, maior vencedor em seu Estadual e dono de cinco títulos nacionais. Se o hoje devolvido ao limbo (do qual dificilmente sairá novamente) São Caetano tivesse conseguido consumar a zebra na Libertadores de 2002, seria mais tradicional que o Corinthians hoje em dia? Não.

Torcedores de equipes “aspirantes a grandes” como Bahia, Coritiba, Atlético-PR, Sport e outras defendem vigorosamente que seus times nada devem a Atlético-MG e Botafogo, pelos motivos apontados acima. Não lhes cabe razão, por mais respeito que seus clubes mereçam. O Atlético-MG, por exemplo, pode ficar mais cinquenta anos no status quo atual (sem Brasileiros, títulos estaduais de vez em quando, raros craques e seguidas humilhações impostas pelo maior, e talvez único, rival); mas sua história, sua tradição, sua torcida, seu poder de mídia, os craques que já revelou (muitos com participação inclusive em Copas do Mundo), tudo isto sempre irá pô-lo num patamar acima do Bahia. Se o Tricolor de Aço realmente quiser se igualar ao Galo mineiro, deverá igualar nos próximos cinquenta anos tudo aquilo que o Alvinegro fez nos últimos cem. E o mesmo pode ser dito do Coritiba em relação ao Botafogo, do Sport em relação ao Fluminense, e assim por diante.

Também não são meros dez, quinze, vinte anos que seja, sem títulos de grande expressão que fazem um time “grande” virar “médio” ou “pequeno”. O Palmeiras não virou “Guarani da Capital” (de resto, um termo imbecil, até por também ridicularizar injustamente o Bugre, grande revelador de jogadores, campeão brasileiro e equipe indiscutivelmente tradicional, dentro das proporções que lhe são devidas) nestes últimos dez anos, bem como o Vasco não se tornou pequeno entre 1993 e 2011, ou, para ir ainda mais longe, o Corinthians (probabilíssimo novo campeão da Libertadores) entre 1954 e 1977. E a sanha pelo “fazer graça a qualquer custo” também não pode conceder a permissão de aviltar toda a história magnífica de nosso futebol menosprezando competições da importância dos campeonatos estaduais, logo eles que iniciaram a tradição de todos os nossos maiores clubes, e hoje em dia desprezados através de alcunhas como “Paulistinha” (termo ridiculamente criado por um decadente jornalista paulista e imediatamente copiado por seus asseclas), “ruralito” e outras. O mais curioso é que os mesmos que dizem desprezar ou atribuem apelidos depreciativos a uma competição são sempre os primeiros a mandarem um “Chupa!” a Deus e ao mundo quando a conquistam...

Então não há como um time deixar de ser grande? Claro que há, mas para isto serão necessárias muitas décadas de absoluta coadjuvância, rebaixamentos seguidos de longa permanência nas séries inferiores, diminuição drástica de torcedores. Não parece ser ainda um cenário visível num país onde, mesmo com os pontos corridos que, muitos apontam, serão o fator decisivo para a limitação das grandes equipes, tivemos seis dos doze maiores sendo campeões nos últimos nove anos, e outros três dos seis restantes brigando firmemente pelo título.

Portanto, senhores, temos sim doze, e não menos que doze, equipes no futebol brasileiro dignas da qualificação de grandes, e sem aspas. Pode-se até discutir que umas sejam "mais grandes" [sic] que outras, ou que umas sejam mais relevantes internacionalmente... ainda assim, todos são grandes. Equipes que fizeram por valer tal condição por seus títulos, pelas torcidas que acumularam ao longo de todos os anos, pela força de mídia traduzida pelo interesse que provocam mesmo em longos períodos de jejum ou crise, pelos grandes jogadores que ali passaram e ainda passam. E por algum tempo isto não deverá mudar.

domingo, maio 20, 2012

Artilharia COMPLETA do Campeonato Brasileiro: 1971-2011

Eis aqui todos (eu disse TODOS) os jogadores que marcaram ao menos um gol (inclusive os contra) em Campeonatos Brasileiros, entre 1971 (ano efetivo do início da atual competição, em que pese o controvertido reconhecimento das Taças Brasil e Torneios Roberto Gomes Pedrosa feito pela CBF em 2010) e 2011.

Listamos aqui apenas os dez primeiros colocados. A lista completa você pode conferir e baixar aqui, em arquivo .PDF.

Atenção: embora seja um trabalho de muitos anos, verificado e corrigido incansavelmente, é evidente que um projeto de tal dimensão está sujeito a conter erros. Se encontrar algum, por favor nos comunique.

190 gols – Roberto Dinamite (Vasco e Portuguesa)

154 gols – Romário (Vasco, Flamengo e Fluminense)

153 gols – Edmundo (Vasco, Palmeiras, Flamengo, Santos, Cruzeiro, Fluminense e
Figueirense)

135 gols – Zico (Flamengo)

129 gols – Túlio (Goiás, Botafogo, Vitória, Santa Cruz e Juventude)

127 gols – Serginho Chulapa (São Paulo, Santos e Corinthians)

126 gols – Washington (Paraná, Ponte Preta, Atlético-PR, Fluminense e São Paulo)

113 gols – Dario (Atlético-MG, Flamengo, Sport, Inter, Ponte Preta, Paysandu, Santa
Cruz, Bahia, Goiás, Coritiba e Nacional)

102 gols – Kléber Pereira (Atlético-PR, Santos e Vitória)

101 gols – Evair (Guarani, Palmeiras, Vasco, Portuguesa, Goiás, Coritiba e Figueirense)

Foto: Abril

segunda-feira, abril 23, 2012

O maior Derby dos últimos 31 anos

Neste domingo, Ponte Preta e Guarani surpreenderam os tradicionais Corinthians e Palmeiras, vencendo ambos por 3 x 2 e se classificando para as semifinais do Campeonato Paulista. Em vez do Derby da Capital, teremos o tradicionalíssimo Derby Campineiro, que neste ano também completa seu centenário.

Mas não é um fato inédito. Em 1981, os dois rivais também disputaram uma vaga na decisão do Estadual, embora de forma diferente: foram os finalistas do primeiro turno, valendo um lugar na disputa do título que seria contra o campeão do segundo. Contudo, ao contrário dos atuais times desacreditados, cheios de nomes modestos e com experiências amargas de sucessivos vexames e rebaixamentos de hoje em dia, na época Macaca e Bugre contavam com equipes fortíssimas, que batiam de frente com qualquer um dos mais populares clubes brasileiros.

E os jogos foram à altura da força daquelas equipes, equilibrados, emocionantes e cheios de tensão como toda boa final deve ser. Após um empate por 1 a 1 no Brinco de Ouro no sábado, 1º de agosto, a decisão ficou para a quarta-feira seguinte, dia 5, no Moisés Lucarelli. E em mais uma partida alucinante, cheia de alternativas, a Macaca, que vinha de dois vices paulistas recentes (1977 e 1979) e havia sido terceira colocada no Brasileirão daquele mesmo ano, superou o forte rival por 3 x 2. A festa só não foi completa em virtude da derrota na decisão do campeonato para a então "Máquina" são-paulina de Serginho Chulapa, Mário Sérgio, Oscar e Valdir Peres, campeã do segundo turno, no Morumbi.

 

PONTE PRETA 3 x 2 GUARANI
Dia: 5/08/1981 (quarta-feira); Local: Estádio Moisés Lucarelli (Campinas); Árbitro: José de Assis Aragão; Renda: Cr$ 4.247.100,00; Público: 21.948; Gols: Osvaldo 37 e Ângelo 45 do 1º; Serginho 3, Jorge Mendonça 9 e Odirlei 36 do 2º; Expulsão: Careca 42 do 2º
Ponte Preta: Carlos, Toninho Oliveira, Juninho, Nenê e Odirlei; Zé Mário, Humberto (Marco Aurélio) e Dicá; Osvaldo, Chicão (Jorge Campos) e Serginho. Técnico: Jair Picerni
Guarani: Birigüi, Chiquinho, Mauro, Édson e Almeida; Jorge Luís, Éderson (Tadeu) e Jorge Mendonça; Lúcio, Careca e Ângelo. Técnico: Zé Duarte

Curiosidades:
- três jogadores daquela decisão foram convocados para a Copa do Mundo de 1982: Carlos, Juninho (ambos reservas) e Careca, que acabou cortado por contusão às vésperas do início da competição e substituído pelo vascaíno Roberto Dinamite.
- os autores dos dois gols bugrinos, Ângelo e Jorge Mendonça, já faleceram, o primeiro em 2007 e o segundo um ano antes, ambos de ataque cardíaco.
- Lúcio, ponta-direita do Guarani, havia sido revelado pela Macaca, pela qual foi vice-campeão estadual em 1977 e 1979 e saído para uma breve e não tão bem sucedida passagem pelo Palmeiras. Já Jorge Mendonça defenderia o rival em duas oportunidades futuras, em 1983 e em 1989.

Fotos: Revista Placar (reprodução)

quarta-feira, setembro 08, 2010

São Paulo x Flamengo

Por Campeonatos Brasileiros:
42 jogos
17 vitórias do São Paulo
12 empates
13 vitórias do Flamengo
64 gols do São Paulo
44 gols do Flamengo

Pela Copa Libertadores:
2 jogos
1 vitórias do São Paulo
1 empate
3 gols do São Paulo
1 gol do Flamengo

Tabu: o Flamengo não vence o São Paulo no Morumbi desde o Brasileiro de 2003 (3 x 1).

Confronto marcante: a vitória rubro-negra por 4 x 3 no Morumbi, em 1982, em partida magistral entre duas das equipes mais poderosas do país na época, alinhando nada menos que seis titulares da fantástica Seleção Brasileira treinada por Telê Santana.



SÃO PAULO 3 X 4 FLAMENGO
Estádio: Morumbi, São Paulo (SP)
Data: 16/02/1982
Árbitro: Edson Alcântara Amorim (MG)
Público: 70.857
Gols: Darío Pereyra, Everton e Renato (SP); Lico, Tita, Zico e Nunes (Fla)
São Paulo: Valdir Perez, Getúlio, Gassem, Darío Pereyra e Marinho Chagas; Almir, Heriberto e Éverton; Renato, Serginho Chulapa e Ricardo (Buca). Técnico: Chico Formiga
Flamengo: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico (Vítor). Técnico: Paulo César Carpegiani

terça-feira, setembro 07, 2010

Cruzeiro x Internacional

Por Campeonatos Brasileiros:
48 jogos
18 vitórias do Cruzeiro
14 empates
16 vitórias do Internacional
63 gols do Cruzeiro
59 gols do Internacional

Pela Copa Libertadores:
4 jogos
3 vitórias do Cruzeiro
1 empate
8 gols do Cruzeiro
4 gols do Internacional

Tabu: o Internacional não vence o Cruzeiro em Minas Gerais, por Campeonatos Brasileiros, desde a semifinal da Copa União de 1987: 1 x 0 no Mineirão, gol marcado por Amarildo na prorrogação. Já são 23 anos e 17 jogos de invencibilidade celeste em seu Estado. Neste período, houve uma vitória colorada por 1 x 0, gol de Rafael Sóbis, em 20.10.2004, mas esta partida foi válida pela Copa Sul-Americana.

Confronto marcante: a vitória cruzeirense por 5 x 4, em partida sensacional pela Libertadores de 1976.



CRUZEIRO 5 X 4 INTERNACIONAL
Estádio: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Data: 07/03/1976
Árbitro: Luis Pestarino (Argentina)
Renda: Cr$ 793.407,00
Público: 65.463
Gols: Palhinha 4 e 10, Lula 14, Joãozinho 21 e Lula 39 do 1º; Zé Carlos (contra) 6, Joãozinho 17, Ramón 25 e Nelinho (pênalti) 39 do 2º
Cruzeiro: Raul, Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Vanderlei; Zé Carlos e Eduardo; Roberto Batata (Isidoro), Jairzinho, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreyra
Internacional: Manga, Cláudio Duarte (Valdir), Figueroa, Hermínio e Vacaria; Caçapava e Falcão; Valdomiro, Flávio (Ramón), Escurinho e Lula. Técnico: Rubens Minelli

Fluminense x Ceará

Por Campeonatos Brasileiros:
9 jogos
5 vitórias do Fluminense
1 empate
3 vitórias do Ceará
11 gols do Fluminense
8 gols do Ceará

Pela Copa do Brasil:
4 jogos
1 vitória do Fluminense
2 empates
1 vitória do Ceará
6 gols do Fluminense
4 gols do Ceará

Tabu: o Ceará jamais venceu o Fluminense jogando no Rio de Janeiro.

Confronto marcante: pela semifinal da Copa do Brasil de 2005, o Fluminense goleou o Vozão em pleno Estádio Castelão por 4 x 1, após um empate em 2 x 2 no Rio, garantindo vaga na final contra o Paulista (que acabou vencida pelo time de Jundiaí).



CEARÁ 1 X 4 FLUMINENSE
Estádio: Castelão, Fortaleza (CE)
Data: 01/06/2005
Árbitro: Leonardo Gaciba da Silva (RS)
Renda: R$ 687.740,00
Público: 51.137
Cartões amarelos: Vanderlei, Sandro (Ceará), Fabiano Eller e Tuta (Fluminense)
Gols: Tuta 15 e Diego Souza 18 do 1º; Rodrigo Tiuí 6, Tuta 7 e Camanducaia 21 do 2º
Ceará: Adílson, André Turatto (Sidney), Vanderlei (Wendell) e Duílio; Vágner, Sandro, Germano, Valdeir (Barata) e Victor Boleta; Camanducaia e Maurílio. Técnico: Jair Pereira.
Fluminense: Kléber, Gabriel (Lino), Antônio Carlos, Fabiano Eller e Juan; Marcão, Arouca, Diego Souza e Maicon (Schneider); Leandro (Rodrigo Tiuí) e Tuta. Técnico: Abel Braga.

segunda-feira, agosto 16, 2010

Europa: jogadores que atuaram nas quatro grandes Ligas

Recém-contratado pelo Liverpool e com passagens por Schalke 04, Sevilla e Juventus, o volante dinamarquês Christian Poulsen entrou para um seleto clube: o dos jogadores a terem atuado pelas quatro principais Ligas Nacionais europeias (Itália, Alemanha, Espanha e Inglaterra).

Antes dele, apenas outros seis atletas atingiram a mesma marca. São eles:

Famoso tanto pelo estilo meio estabanado em campo quanto pelos cabelos e barba sempre descoloridos e com cortes "modernosos", o zagueiro português Abel Xavier passou pelos italianos Bari e Roma, pelo espanhol Oviedo, pelo alemão Hannover 96 e por nada menos que três equipes inglesas, Everton, Liverpool e Middlesbrough. Autêntico "cigano", passou ainda por outras cinco equipes em dezoito anos de carreira.

Conterrâneo de Poulsen, o atacante Jon Dahl Tomasson teve passagens por Newcastle, Milan e Stuttgart, completando o ciclo das quatro grandes Ligas com um rápido estágio no Villarreal.

Com longa carreira construída no futebol italiano (passou por Vicenza, Lucchese, Roma, Bologna, Brescia e Internazionale), o lateral-esquerdo camaronês Pierre Womé ainda achou tempo para defender Fulham, Espanyol, Werder Bremen e Colônia, seu último clube (atualmente encontra-se sem vínculo).

Destaques da seleção romena que fez belo papel na Copa do Mundo de 1994, o zagueiro Gheorghe Popescu e o atacante Florin Răducioiu (foto, camisas 6 e 9) também rodaram bastante pelos principais campos europeus. O primeiro defendeu Tottenham, Barcelona, Lecce e Hannover; já o segundo passou por vários times italianos (Bari, Verona, Brescia e Milan), além de Espanyol, West Ham e Stuttgart.

Por fim, o meio-campo português Nuno Ricardo de Oliveira Ribeiro, ou simplesmente Maniche, um dos raros a atuar pelos três gigantes locais (Porto, Benfica e Sporting, seu atual clube), além de ter defendido Chelsea, Atlético de Madrid, Internazionale e Colônia.


Fontes: Leonardo Bertozzi (ESPN/Trivela) e 2010MisterChip

quarta-feira, junho 23, 2010

Os 23 da Copa (XI) - Robinho: o homem de confiança

Tem alguns garotos aqui no Santos que, se bem trabalhados, vão chegar lá. Por exemplo, o Robinho, um crioulinho. Ele sabe driblar e é inteligente.

No início de 1999, Pelé acompanhava de perto as divisões de base do Santos e cunhou a frase acima, dada em entrevista à revista Placar. É fato que são famosas as apostas e palpites equivocados do Rei, mas nesta ele até que acertou. Robinho, o tal “crioulinho”, tornou-se uma das grandes esperanças do futebol brasileiro em mais uma Copa do Mundo.

Apenas três anos depois da “profecia”, ele foi promovido aos profissionais do Santos, com apenas 18 anos. A seu lado, outras promessas das categorias de base, como o meia Diego, um ano mais novo e seu parceiro inseparável dentro e fora de campo. A bem da verdade, nada disso fez parte de um planejamento meticuloso e profissional; o clube, afundado em dívidas e sem ter como investir em jogadores famosos, tinha nos juniores uma opção (muito) mais barata. E assim o Peixe entrou no Brasileiro de 2002, com um elenco desconhecido e apontado por muitos como forte candidato ao rebaixamento.

Porém, tão logo a bola rolou, descobriu-se um timaço. E aquela equipe comandada por jogadores jovens e/ou pouco conhecidos, como Alex, Maurinho e Alberto, aliados a outros que já estavam na Vila Belmiro sem chamar muito a atenção, casos de Elano e Renato, acabou conquistando de forma brilhante o título brasileiro.

As grandes estrelas da inédita conquista, que pôs fim a um incômodo jejum de dezoito anos sem um título oficial importante, foram justamente os garotos Diego e Robinho. Este, ao comandar a equipe na dramática final contra o odiado arquirrival Corinthians, virou estrela da noite para o dia. Com o companheiro Diego saindo contundido logo a 2 minutos de jogo, Robinho chamou a responsabilidade para si. Construiu os três gols da vitória, sendo que no primeiro conseguiu um pênalti após humilhar o lateral-direito Rogério com uma impressionante e inesquecível seqüência de “pedaladas”, o famoso drible em que se passa seguidamente o pé sobre a bola, imitando o movimento usado em uma bicicleta.

Integrado ao time das estrelas do futebol brasileiro, Robinho logo passou a ter seu lugar exigido pela opinião pública na Seleção Brasileira, talvez de forma prematura. Embora habilidosíssimo e veloz nos dribles, ainda demonstrava uma certa fragilidade física e deficiência nas conclusões a gol. Depois de se destacar na Libertadores de 2003, levando o Peixe ao vice-campeonato, mergulhou em uma má fase, que se estendeu do Brasileiro daquele ano (em que seu clube, teoricamente dono do melhor elenco, acabou perdendo o título para o Cruzeiro) ao Torneio Pré-Olímpico do Chile, em 2004 (o favoritíssimo Brasil naufragou no quadrangular final e perdeu a vaga nos Jogos de Atenas).

O parceiro Diego foi embora, negociado com o Porto. O técnico Emerson Leão também, chegando Wanderley Luxemburgo para seu lugar. E Robinho logo voltou a exibir seu melhor futebol com o novo treinador. Iniciou um trabalho de fortalecimento físico, visando torná-lo um jogador mais resistente às divididas e ao jogo brusco sem contudo prejudicar sua habilidade e mobilidade; e, cobrado energicamente por Luxa, passou a treinar com afinco as conclusões. O resultado foi que ainda ficou longe de ser um emérito finalizador, mas certamente seu aproveitamento tornou-se bem mais aceitável; tanto que, com 21 gols, acabou sendo o artilheiro santista no Brasileiro de 2004, ao lado do centroavante Deivid.

E foi na reta final daquela mesma competição que viveu o maior drama de toda sua vida. Sua mãe, Dona Marina, foi seqüestrada e passou aproximadamente quarenta dias em um cativeiro. Afastado da equipe durante esse período, contou com total apoio de seus companheiros e também da torcida. Só retornou na última rodada da competição, diante do Vasco, apenas dois dias após a libertação de sua mãe, felizmente sem quaisquer marcas (físicas) deixadas pela barbárie. Fora de forma, foi substituído no segundo tempo, festejando depois a conquista de mais um Nacional, o segundo em três anos.

Apenas em 2005 o técnico Carlos Alberto Parreira passou a lhe dar chances reais com a camisa da Seleção principal. E Robinho acabou sendo titular da equipe que conquistou a Copa das Confederações. Não chegou a brilhar como no clube, mas mostrou vários lances de brilho, quase marcando lindos gols tanto contra a Alemanha como contra a Argentina.

Na volta da competição, revelou ter uma proposta concreta do Real Madrid, e que queria ir para a Europa. Julgava já ter encerrado seu ciclo no Santos e argumentava querer dar segurança a sua família, compreensivelmente traumatizada com o lamentável caso envolvendo sua mãe. Após um mês de litígio com o clube, que tentou a todo custo segurá-lo, acabou finalmente negociado por 30 milhões de dólares, um valor certamente compensador diante de tantas outras transações vergonhosas, em que craques brasileiros incontestáveis são negociados a preço de banana (vide os casos Kaká e Diego, por exemplo).

Porém, a fase do clube merengue não ajudou. Robinho chegou no meio de uma crise que se arrastava há três temporadas (e, fora um ou outro espasmo, dura até hoje), tempo em que o Real Madrid tornou-se famoso por suas contratações vultosas e sem critério técnico, que resultam na falta de títulos. Ele próprio acabou por entrar no clima algo "circense" reinante no clube espanhol e foi aos poucos substituindo os gols e dribles objetivos rumo ao gol por um futebol de muitas firulas e irritantemente improdutivo, o mesmo mal que podou a carreira do ex-são-paulino Denilson, outro a trocar o futebol brasileiro pelos milhões espanhóis.

Contudo, seu desempenho na Seleção não foi afetado. Nas chances que recebeu na Copa da Alemanha, houve-se bem e sua entrada no lugar de Adriano foi cobrada por muitos, mas a contusão que o afastou da partida contra Gana nas oitavas-de-final parece tê-lo prejudicado neste objetivo. Voltou da Alemanha sem arranhões na imagem e começou a segunda "Era Dunga" com moral de titular absoluto, que se confirmou com o título, a artilharia (algo inédito em sua carreira) e o posto de melhor jogador na Copa América de 2007, disputada na Venezuela. A partir daí tornou-se definitivamente homem de confiança do treinador.

A má fase no Real Madrid, aliada ao sonho (mais próximo de delírio, no fim das contas) de ser "o melhor jogador do mundo", seguiu atrapalhando-o na Espanha, culminando com declarações desastradas, como as de que preferia "vender pastel na feira" a jogar naquele que é talvez o mais tradicional e historicamente vitorioso clube do planeta. Após fracassar a negociação com o Chelsea, que havia acabado de ser assumido por Luiz Felipe Scolari, foi parar no Manchester City, equipe mais modesta e recém-adquirida por um magnata árabe.

O início na Inglaterra foi bom, com dribles e gols que faziam parecer que a boa fase estava de volta. Mas o desequilíbrio da equipe em campo, com uma defesa muito frágil em comparação com o forte ataque, a campanha consequentemente fraca e a noite de Manchester (com direito a uma controvertida, e depois desmentida, acusação de estupro em uma de suas inúmeras "baladas") fizeram Robinho sucumbir mais uma vez. Reserva, ainda mais depois da chegada de nomes como Bellamy, Roque Santa Cruz e do argentino Tevez, a quem ironica ofuscava quando eram rivais no futebol paulista anos antes, mais uma vez deixou o mau comportamento falar mais alto, com declarações equivocadas de inconformismo via imprensa.

O empréstimo a seu velho e querido Santos caiu como uma luva. Apesar dos apenas 26 anos, chegou para ser o "veterano" da nova geração dos "Meninos da Vila". Seu desempenho em campo está longe de ser decepcionante, colaborando com gols e assistências nas campanhas do título paulista e do "quase-título" da Copa do Brasil (que será decidida contra a "zebra" Vitória após a Copa do Mundo), mas Robinho acabou ofuscado pelas estrelas ascendentes Neymar (quase uma fotocópia dele mesmo anos atrás, mas que aparenta ser ainda mais promissora) e Paulo Henrique "Ganso", este a menina-dos-olhos do torcedor brasileiro e que acabou, após muitas súplicas de convocação, entrando apenas na lista dos sete "suplentes" de Dunga para a Copa.

Na Seleção, apesar de não estar repetindo o mesmo desempenho de 2006/07, Robinho segue com prestígio e titular absoluto de Dunga. Um dos melhores em campo na estreia do Mundial da África do Sul, com direito a uma bela assistência para Elano que fechou a vitória contra a Coreia do Norte, esteve meio sumido diante da truculenta Costa do Marfim. Mas a esperança é que, a partir do difícil confronto contra Portugal, consiga reviver, ao menos em parte, os tempos em que ostentava no futebol brasileiro o prestígio que hoje cabe a seu companheiro de clube Neymar.


Róbson de Souza
atacante
São Vicente (SP), 25.01.1984
1,72 m
65 kg
Clubes: Santos (2002 a 2005 e desde 2010), Real Madrid-ESP (2005 a 2008) e Manchester City-ING (2008/09).
Títulos: paulista (2010) e brasileiro (2002 e 2004) pelo Santos; espanhol (2007/08) pelo Real Madrid; da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 88 (31 gols)
Participação em Copas:
2006 (5º lugar) – 4 jogos, nenhum gol

Foto: Getty Images

segunda-feira, junho 21, 2010

Os 23 da Copa (X) - Kaká: a esperança de inspiração

Um tolo acidente quase interrompeu no nascedouro a carreira de um dos mais talentosos jogadores brasileiros da atualidade. Em outubro de 2000, apenas três anos após iniciar nas categorias de base do São Paulo, o jovem Cacá (era assim que a imprensa escrevia na época), então com 18 anos, curtia uma folga na cidade goiana de Caldas Novas, mundialmente famosa por suas águas termais. Ao mergulhar de mau jeito, o rapaz bateu a cabeça no fundo da piscina, lesionando gravemente a espinha. Milagrosamente, escapou de perder todos os movimentos do corpo.

O episódio pode não ter tido maiores conseqüências, mas lhe custou a vaga de titular na Copa São Paulo de Juniores, no ano seguinte. O jovem alto e imberbe no banco de reservas não atraía tanto a atenção da imprensa, mais interessada nos movimentos de outras promessas do Tricolor, como Harisson, Oliveira e Renatinho. Ironicamente, nenhum deles, especialmente os dois últimos, chegou perto do sucesso do tal reserva...

Às vésperas de um clássico contra o Santos, pelo Paulistão, o técnico Oswaldo Alvarez precisou de jogadores para completar a equipe. E socorreu-se aos juniores: Renatinho e Harisson atuaram como titulares, e Cacá foi para o banco, mais como um quebra-galho. Mas começou aí sua trajetória de sucesso: substituindo Harisson no segundo tempo, em um de seus primeiros lances marcou um belo gol de cabeça, lance fundamental na vitória por 4 x 2.

Mas a explosão de fato viria alguns dias depois. Na partida decisiva do Rio-São Paulo, o Tricolor perdia no Morumbi para o Botafogo, por 1 x 0, diante de mais de 70 mil torcedores. O resultado em si não trazia preocupação, afinal o São Paulo havia conseguido uma grande vantagem goleando por 4 x 1 em pleno Maracanã na partida de ida. Mas a idéia de ter a faixa carimbada incomodava. Até que Cacá, novamente entrando na segunda etapa, virou a partida com dois gols em apenas três minutos, um deles magistral, entortando o zagueiro Váldson. O São Paulo conquistava um título inédito e o jovem meia tornava-se astro da noite para o dia.

Logo o assédio tornou-se avassalador. E o garoto logo aproveitou para fazer um pedido à imprensa: que seu apelido fosse escrito com dois “k’s”, ou seja, Kaká. Um pedido algo estranho, mas atendido de imediato. E a cada vez mais freqüente exposição na mídia logo o tornou alvo não apenas da torcida, como também das adolescentes, encantadas por outros atributos do atleta...

Após boas participações no Paulistão e no Brasileiro, bem como no Mundial Sub-20 da Argentina, a sonhada chance de vestir a camisa amarela principal veio em 2002, poucos meses antes da Copa. Kaká mostrou bom futebol nos amistosos, contou com a sorte (o concorrente Djalminha foi cortado à última hora por problemas disciplinares) e garantiu uma vaga no grupo que iria à Coréia do Sul e Japão. A exemplo do Ronaldo de 1994, Kaká teria no Mundial uma espécie de “vestibular”, visando ganhar experiência entre os reservas, acostumando-se ao ambiente da Seleção para firmar-se futuramente.

Teve apenas uma oportunidade de atuar na Copa, atuando alguns poucos minutos na goleada de 5 x 2 sobre a Costa Rica. Uma participação discreta. Após comemorar o pentacampeonato e retornar ao São Paulo, fez um Brasileiro excepcional e o clube ficou com o primeiro lugar disparado na fase de classificação. Porém, a eliminação para o Santos de Robinho e Diego trouxe a crise para a equipe, acusada de “pipocar” na hora mais decisiva.

No ano seguinte, os fracassos tricolores continuaram. Impaciente e desesperada, parte da torcida são-paulina (praticamente toda ela composta por uma organizada famosa por seus brutais atos de violência) passou a perseguir Kaká, jogando sobre ele a responsabilidade pelos fracassos. Tal barbaridade contribuiu em muito para a prematura saída do craque, vendido ao Milan em julho daquele mesmo ano por quase módicos 8,5 milhões de dólares.

Kaká chegou ao time rossonero mais como uma aposta para o futuro, mas surpreendeu os italianos. Cheio de disposição, ganhou a vaga de titular já na pré-temporada de 2003/04, barrando os medalhões Rivaldo e Rui Costa. O craque do Mundial de 2002 também acabaria barrado pelo garoto “abusado” na Seleção. Kaká terminou 2003 titular absoluto da Seleção, agora sob o comando de Parreira, e também do Milan.

Terminou a temporada em alta, campeão nacional e eleito o melhor jogador da competição. Foi dele também toda a jogada que resultou no gol do título, marcado por Shevchenko na partida decisiva diante da Roma. A essa altura, os 8,5 milhões pagos por seu passe já eram definitivamente preço de banana.

Nas temporadas seguintes, Kaká firmou-se definitivamente como titular da Seleção Brasileira, revelando-se um dos jogadores mais regulares da equipe e mesmo se sacrificando na marcação para que Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Adriano pudessem brilhar mais. No Milan, apesar de decepções como os dois vices italianos e a inacreditável perda da Champions League de 2004/05 para o Liverpool, seu prestígio seguia igualmente intacto.

Contudo, não escapou da mediocridade que acometeu toda a Seleção no Mundial da Alemanha. Após uma atuação regular e um belo gol na estreia diante da Croácia, pouco fez de relevante nas partidas seguintes. Isso até mesmo lhe custou uma suposta perda da posição de titular no início da "segunda Era Dunga": o ex-volante e agora treinador o deixou no banco em um de seus primeiros amistosos no comando da equipe, mas foi obrigado a ver o meia entrar no segundo tempo contra a Argentina e marcar um lindo gol, numa sensacional arrancada desde o campo de defesa que fechou o placar de 3 x 0 no Emirates Stadium de Londres.

Novamente indispensável ao grupo titular da Seleção por seu talento, atingiu seu auge no ano seguinte. Comandou a inesperada conquista de um Milan cheio de veteranos e mergulhado em má fase na Champions League e, depois, no Mundial de Clubes da Fifa. Arrematou o prêmio de melhor jogador do ano pela Fifa em dezembro de 2007, após a final no Japão.

Pouco depois, começou o calvário provocado pelas constantes lesões pubianas, que o tiraram de várias partidas importantes, não só pelo Milan como também pela Seleção. E, após anos de intenso assédio, ora real e concreto, ora apenas mero circo midiático, acabou negociado com o Real Madrid, por incríveis 65 milhões de euros, e um tanto a contragosto. Kaká nunca negou sua afinidade com o manto rossonero e manifestava o desejo de no futuro tornar-se capitão e uma "bandeira" da equipe; a diretoria capitaneada pelo magnata Silvio Berlusconi, contudo, não pareceu comungar da mesma opinião e, mesmo vendo o time envelhecido e decadente, não hesitou em vender sua maior estrela para garantir um suposto equilíbrio de caixa.

Em sua primeira temporada com a camisa merengue, seu desempenho acabou prejudicado pelos velhos problemas no púbis, acabando o brasileiro ofuscado pela outra contratação "galática" da pré-temporada, o português Cristiano Ronaldo. E o desempenho recente pela Seleção põe igualmente em dúvida sua capacidade de contribuir para o sonhado hexa na África do Sul. Após uma atuação esforçada, mas sem brilho, na estreia diante da Coreia do Norte, e partir do céu com duas assistências ao inferno de uma expulsão controvertida contra a Costa do Marfim, Kaká, na condição de maior e talvez único craque do grupo de Dunga, tem o desafio de provar que ainda poderá voltar a brilhar tão intensamente quanto há três temporadas.


Ricardo Izecson Santos Leite
meia
Brasília (DF), 22.04.1982
1,84 m
75 kg
Clubes: São Paulo (2001 a 2003), Milan-ITA (2003 a 2009) e Real Madrid-ESP (desde 2009).
Títulos: do Rio-São Paulo (2001) pelo São Paulo; italiano (2004), da Liga dos Campeões (2007), da Supercopa Européia (2003 e 2007) e mundial de clubes da FIFA (2007) pelo Milan; mundial (2002) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira
Jogos pela Seleção: 89 (33 gols)
Participação em Copas:
2002 (campeão) – 1 jogo, nenhum gol
2006 (5º lugar) – 5 jogos, 1 gol

Photo: AP Photo

sábado, junho 12, 2010

Os 23 da Copa (IX) - Luís Fabiano: mais que uma fábula

Filho de mãe solteira, aluno rebelde, o pequeno Luís Fabiano certamente teria tido um futuro não muito promissor não fosse a dedicação e o carinho do avô paterno, "seo" Benedito, que lhe fez as vezes de pai. Incentivador maior do garoto, Ditão lhe conseguiu um teste no Guarani: foi aprovado, mas acabou dispensado um ano depois, quando iria estourar o limite de idade de sua categoria.

Depois de um tempo parado e não tendo tido sucesso em outros ofícios, Luís conseguiu novo teste, no Ituano, e, pouco tempo depois, saiu de lá rumo aos juniores da Ponte Preta, para alegria do avô, torcedor fanático da Macaca. E suas primeiras oportunidades vieram em 1999, ainda poucas num bom time que havia conseguido enfim sair da Série A-2 Paulista após quatro anos de ausência da elite e feito ótima campanha no Brasileiro, chegando às quartas-de-final.

Ainda conhecido apenas como "Fabiano", tornou-se titular em 2000, fazendo um bom Estadual e chamando a atenção do Rennes, modesta agremiação francesa, que à época apostou em outro jovem atacante brasileiro, Lucas, do Atlético-PR e Seleção Olímpica. Não se adaptou à Europa e a notícia do falecimento do avô querido, em setembro daquele mesmo ano, só piorou as coisas.

Retornou no ano seguinte, emprestado ao São Paulo. Na mesma época, desembarcava no Morumbi, outro atacante chamado Fabiano, vindo do Inter e que curiosamente também tinha em seu registro de nascimento o nome Luís Fabiano. A solução foi "rebatizar" o ex-ponte-pretano com seu nome composto, que o acompanha até hoje, enquanto o ex-colorado passou a atender como Fabiano Souza.

Fabiano Souza, famoso por ter comandado a histórica goleada do Inter por 5 x 2 sobre o Grêmio em pleno Olímpico no ano de 1997, acabou tendo passagem apagadíssima pelo Tricolor e muitos torcedores hoje sequer lembram que ele algum dia esteve no Morumbi. Luís Fabiano, em compensação, foi marcante. Ainda desconhecido pela torcida, entrou durante a partida contra o Botafogo no Maracanã, jogo de ida da final do Rio-São Paulo; e fez dois gols na goleada de 4 x 1 que deixou o título praticamente sacramentado para a volta, na qual surgiu outro futuro craque do futuro brasileiro e seu companheiro no Mundial, Kaká.

Logo virou titular e fez ótima dupla de ataque com o também goleador França. Contudo, aquele time, fortíssimo no meio-campo e ataque, acabou a temporada sem títulos, muito por conta de sua frágil defesa. Devolvido ao Rennes por não ter havido acerto financeiro para sua permanência, acabou retornando em definitivo ao Morumbi no segundo semestre de 2002, desta vez para substituir o recém-negociado França como principal referência no ataque são-paulino e ser "escudado" pelo ex-flamenguista Reinaldo.

Acabou artilheiro do campeonato, ao lago do gremista Rodrigo Fabri, mas o time, depois de terminar a fase de classificação disparado na primeira posição, acabou atropelado pelo Santos de Diego e Robinho, o futuro campeão, na fase de mata-mata. Em 2003, a incômoda rotina continuou: muitos gols (artilheiro do Paulistão e 3º maior goleador no Brasileiro, apenas dois gols atrás de Dimba, do Goiás) e a idolatria da torcida, mas o time sempre fraquejava na hora de decidir. Ao menos, o 3º lugar no Brasileiro garantiu o retorno à disputa da Libertadores depois de quase dez temporadas de ausência; e Luís Fabiano ainda fez sua estreia pela Seleção, com um gol na vitória por 3 x 0 diante da Nigéria em amistoso disputado no país africano.

Foi goleador da Libertadores em 2004, mas a doída eliminação diante do Once Caldas, com gol aos 48 do segundo tempo, ofuscou seu belo desempenho. Também acabou sendo coadjuvante na conquista da Copa América: a imprensa paulista o apontava como provável estrela da competição, mas viu Adriano, ex-Flamengo e então chegando à Internazionale, brilhar e ser o maior nome daquele título.

Já contestado por parte da torcida tricolor devido à falta de títulos (nem a ótima marca de 118 gols em 160 partidas vinha sendo muito levada em consideração), foi para o Porto. Parecia bom negócio chegar a uma equipe recém-campeã da Liga dos Campeões e em alta, mas novamente não se adaptou de imediato ao futebol europeu, não conseguindo emplacar mais do que uma temporada. Em baixa, chegou ao Sevilla, time ascendente e que vinha de ótima campanha em La Liga na edição 2004/05, para brigar por uma posição com o argentino Saviola, "eterna promessa" emprestada pelo Barcelona.

Mais uma vez, seu início foi difícil, mas o gol marcado na final da Copa da UEFA, que abriu a goleada de 4 x 0 sobre os ingleses do Middlesbrough e garantiu uma inédita conquista aos Rojiblancos, parece ter lhe dado ânimo. A partir da temporada 2006/07, deslanchou e tornou-se peça indispensável na equipe andaluz, que andou perto de beliscar o título por dois anos seguidos, mas fraquejou nas retas finais. Veio ainda o bi da Copa da UEFA e a conquista da Copa do Rei, título que o Sevilla não ganhava havia 59 anos. E em 2008, Luís Fabiano brigou cabeça a cabeça pela artilharia da Liga, que acabou ficando com o espanhol Güiza, então do Mallorca e atualmente atuando no Valencia.

Mas a maior prova de sua ascensão se deu com a camisa amarela da Seleção. Os dois gols da difícil vitória sobre o Uruguai, em novembro de 2007, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no mesmo Morumbi onde havia brilhado intensamente alguns anos antes, lhe deram moral para agarrar a camisa 9 e não mais a largar. Aproveitou-se ainda dos eternos problemas extra-campo de Ronaldo e Adriano, concorrentes outrora aparentemente insuperáveis e que acabaram derrotados pela própria indolência.

Goleador principal da Seleção na conquista da Copa das Confederações e também nas eliminatórias, hoje Luís Fabiano é peça indispensável no time do técnico Dunga. Há quem diga que não se trata de um "extra-classe" como os centroavantes que o Brasil teve em Mundiais passados, como Reinaldo, Careca, Romário e Ronaldo (claro, quando o preparo físico e comportamento fora de campo lhe permitia ser assim considerado...), mas certamente terá muito a oferecer em uma competição nivelada como a que está sendo disputada na África do Sul.


Luís Fabiano Clemente
atacante
Campinas (SP), 08.11.1980
1,83 m
84 kg
Clubes: Ponte Preta (1999 a 2000), Rennes-FRA (2000 e 2002), São Paulo (2001 e 2002 a 2004), Porto-POR (2004/05) e Sevilla-ESP (desde 2005).
Títulos: do Torneio Rio-São Paulo (2001) pelo São Paulo; mundial interclubes (2004) pelo Porto; da Copa do Rei (2007 e 2010), da Copa da UEFA (2006/07) e da Supercopa Europeia (2006) pelo Sevilla; da Copa América (2004) e da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 38 (25 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

terça-feira, junho 08, 2010

Os 23 da Copa (VIII) - Felipe Melo: contra os próprios nervos

O meia Felipe Melo iniciou sua carreira de forma promissora, dando, com apenas 18 anos, um grande alívio para a maior torcida do Brasil. Seu gol diante do Internacional, numa partida disputada em Juiz de Fora (MG), pela antepenúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2001, acabou no final dando uma valiosa contribuição para que o Flamengo não fosse rebaixado à Série B.

O jogador destacava-se nas categorias de base do Rubro-Negro como um combativo e técnico armador. Mantido na equipe principal, foi dos poucos que se salvou do vexame na Libertadores de 2002, em que seu time foi eliminado ainda na primeira fase: Felipe acabou artilheiro do Mengão com quatro gols. Contudo, caiu de produção com o restante da equipe nas péssimas campanhas feitas nas competições seguintes daquela temporada, em especial no Brasileirão, em que o Flamengo fez novamente uma campanha medíocre e só se salvou da degola nas rodadas finais.

Após disputar o Sul-Americano Sub-20 pela Seleção Brasileira e algumas poucas partidas do Estadual em 2003, acabou emprestado ao Cruzeiro. Não teve maiores oportunidades numa equipe que estava em estado de graça e com o meio-campo povoado de jogadores em grande fase, como Alex, Maldonado, Martinez e Wendell, mas do banco pôde comemorar as conquistas do Brasileiro e da Copa do Brasil (esta, em cima de seu antigo clube), duas das que compuseram a "tríplice coroa" até hoje cantada em prosa e verso pela torcida azul de BH.

No ano seguinte, acabou novamente emprestado, desta vez ao Grêmio. Uma temporada para esquecer. O Imortal amargou a lanterna disparada e um triste rebaixamento, o segundo de sua história no Brasileiro, e que acabou consumado com nada menos que três rodadas de antecedência. Felipe perdeu-se em meio à mediocridade daquele time e só apareceu mesmo quando, na comemoração de um raro gol, pôs a bola sob a camisa. Homenagem a uma gravidez de sua esposa? Não, o ato fazia referência aos implantes de silicone que a mesma havia acabado de fazer nos seios...

Liberado do Flamengo no início de 2005 via Justiça Desportiva, após alegar atrasos salariais, tomou o caminho da Espanha, onde foi defender o Mallorca. Após uma rápida passagem pela equipe das Ilhas Baleares, transferiu-se para o Racing Santander, onde atuou por duas temporadas como titular e sendo aproveitado numa função mais defensiva, como volante, aproveitando-se de seu bom vigor físico e facilidade em marcar. Em 2007, acabou negociado com o modesto Almería, que havia recém-subido da Segunda Divisão e acertado com o também brasileiro Diego Alves, à época promissor goleiro do Atlético-MG e até hoje titular da equipe andaluz.

O Almería fez ótima campanha, ficando em oitavo lugar, e Felipe chamou a atenção de grandes e tradicionais agremiações. A Fiorentina tratou de garantir rapidamente sua contratação, pagando nada desprezíveis 13 milhões de euros por seu passe.

Com a camisa roxa da Viola, explodiu de vez. Seu time fez uma grande campanha, ficando em quarto lugar, superando a favorita Roma de Francesco Totti e garantindo uma das vagas italianas na Champions League da temporada seguinte. Para melhorar, recebeu uma inédita chance na Seleção principal, estreando justamente contra a Itália que o havia acolhido e tendo boa atuação nos 2 x 0 aplicados no Emirates Stadium de Londres.

Firmou-se no grupo de Dunga e garantiu seu lugar como titular na campanha vitoriosa da Copa das Confederações, em junho. Ao mesmo tempo, a poderosa Juventus garantiu sua contratação por nada menos que 25 milhões de euros, quase o dobro do que a Fiorentina havia investido apenas um ano antes.

Tudo ia bem demais, mas para Felipe Melo as coisas começaram a complicar-se desde então. Com um time envelhecido, mal treinado e desequilibrado entre seus setores, a Vecchia Signora fez no Italiano de 2009/2010 sua pior campanha em quase cinquenta anos, perdendo nada menos que 15 de suas 38 partidas e amargando uma modesta sétima posição que a deixou longe até mesmo de disputar uma vaga na UCL. E Felipe, longe de justificar o esforço feito em seu investimento, chegou até a "arrebatar" o Bidone D'Oro, "prêmio" satírico conferido por um programa radiofônico italiano ao suposto pior jogador da temporada.

Na Seleção, também passou a ser discutido. A extrema rispidez na disputa das jogadas, até mesmo em lances banais, a coleção cada vez maior de cartões e os perigosos erros de passe na intermediária defensiva têm preocupado a imprensa e a torcida. Some-se a isso a postura meio arrogante, evidenciada até mesmo em sua constante "carranca" dentro de campo, e um evidente desequilíbrio emocional que, em menos de um mês, o fez envolver-se em patético bate-boca via telefone com o jornalista da ESPN Brasil Paulo Vinícius Coelho, o "PVC", e, mais recentemente, distribuir pontapés nos ingênuos jogadores de Zimbábue e Tanzânia nos últimos amistosos de preparação antes da Copa.

Cabe agora a Felipe Melo vencer seus próprios nervos e provar se é de fato um jogador ascendente e capaz de preencher a contento o meio-campo da Seleção, ou se é apenas um mero engodo desesperado por ver sua boa fase indo embora definitivamente.


Felipe Melo de Carvalho
volante
Volta Redonda (RJ), 26.06.1983
1,83 m
73 kg
Clubes: Flamengo (2001 a 2003), Cruzeiro (2003), Grêmio (2004), Mallorca-ESP (2005), Racing Santander-ESP (2005 a 2007), Almería-ESP (2007/08), Fiorentina-ITA (2008/09) e Juventus-ITA (desde 2009).
Títulos: brasileiro (2003) e da Copa do Brasil (2003) pelo Cruzeiro; da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 18 (2 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

domingo, junho 06, 2010

Os 23 da Copa (VII) - Elano: discreta eficiência

Filho de cortadores de cana da pequena Iracemápolis, cidade de 20 mil habitantes espremida entre Limeira e Piracicaba, o garoto Elano sempre foi incentivado pelo pai a seguir a carreira de jogador. E a primeira chance surgiu aos 13 anos, nas categorias de base do Guarani. Formado no futsal, o meia logo demonstrou as qualidades que sempre marcaram seu futebol: visão de jogo, boa movimentação, capacidade de se adaptar a várias funções em campo, chutes e passes precisos. E tudo isto aliado a um estilo algo "low profile", sem abuso de dribles e maiores firulas desnecessárias.

Não chegou a se profissionalizar no Bugre, conseguindo sua liberação na Justiça após desentendimento com parte da diretoria. Depois de uma breve passagem pela Internacional de Limeira, chegou ao Santos. E eram tempos difíceis na Vila Belmiro. O início da gestão Marcelo Teixeira fora marcado por investimentos extravagantes em jogadores veteranos (e caros) como Rincón, Valdo, Carlos Germano, Galván e Valdir "Bigode", e o jejum de títulos que já se aproximava de completar duas décadas desesperava a torcida. Ficava difícil para os garotos, da base ou recém-chegados ao clube, se firmarem naquelas circunstâncias.

Após quase duas temporadas atuando meio desapercebido, a sorte de Elano, bem como a de seus companheiros, começou a mudar no segundo semestre de 2002. Sem dinheiro, a diretoria se viu obrigada a apostar num time caseiro e barato, promovendo pratas-da-casa como Robinho e Diego, contratando incógnitas como Alex, Alberto e Maurinho, e mantendo apenas alguns nomes com mais tempo de casa, como Léo e Fábio Costa. E aquele time, que no começo do campeonato era dado até mesmo como um candidato ao rebaixamento, durante o certame revelou-se uma equipe magnífica. Elano, bem como Renato, outro que atuava pelo Peixe há algum tempo sem receber maiores atenções por parte de torcida e mídia, explodiu junto com o resto da equipe, sendo uma de suas mais importantes peças e tendo inclusive marcado um gol na inesquecível virada na decisão diante do Corinthians.

Nos anos seguintes, confirmou sua ascensão e mostrou outra faceta de seu futebol: a versatilidade. Chegou a ser utilizado por breves períodos como lateral-direito e centroavante, com resultados satisfatórios. Contudo, a meia-direita era sua verdadeira posição, e lá acabou ficando. Chegou à Seleção Pré-Olímpica, mas acabou fracassando com o resto do time no Torneio do Paraguai, em janeiro de 2004. Em outubro do ano passado, debutou na equipe principal do Brasil, entrando no segundo tempo da partida contra a Colômbia, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006.

Após mais um título brasileiro com o Santos, em 2004 (com direito a mais um gol no jogo decisivo, dessa vez contra o Vasco), recebeu proposta do Shakhtar Donetsk, ascendente (e milionário) clube ucraniano. Embora tivesse expectativa de propostas mais vantajosas de mercados mais tradicionais e com muito mais visibilidade, aceitou o desafio, motivado pela possibilidade da independência financeira e de ajudar sua família. Na Ucrânia, teve um bom início, mas a chegada do rigoroso inverno que castigou não só a si, como também à sua esposa e à filha recém-nascida, lhe trouxe um certo arrependimento. Brigado com o treinador romeno Mircea Lucescu e mandado para a reserva, encontrava-se abatido quando recebeu a notícia que deu uma guinada em sua carreira.

Apesar dos pesares, fora convocado pelo recém-chegado técnico Dunga para a Seleção Principal. E seu início não poderia ter sido melhor: marcou dois gols e foi um dos melhores em campo justamente diante da Argentina, no Emirates Stadium de Londres, segundo amistoso do capitão do Tetra no comando da Seleção. E começou a se impor como uma das peças indispensáveis do esquema tático. Após o título da Copa América de 2007, disputada na Venezuela, trocou a fria e escondida Ucrânia pelo badalado e campeão de audiência futebol inglês. Foi defender o Manchester City, "primo pobre" do poderoso United e começando a receber generosa injeção financeira de um milionário empresário tailandês.

Após uma boa primeira temporada, caiu de produção e também em desgraça com o técnico galês Mark Hughes. A solução foi novamente fazer as malas e mudar-se para a Turquia, onde defende o Galatasaray desde o início da última temporada.

Na Seleção, seguiu em bom ritmo. Chegou a perder a posição para o ex-cruzeirense Ramires durante a última Copa das Confederações, mas a recuperou nos últimos amistosos após fracas atuações do concorrente. Continua mostrando o mesmo futebol discreto, porém eficiente, com grande participação especialmente nas assistências, pelo que promete ser uma das armas do Brasil nas jogadas de bola parada no Mundial. E uma curiosidade o credencia: Elano parece ter uma "estrela" toda especial para confrontos contra seleções mais fortes e tradicionais. Além da Argentina, também marcou belos gols contra Portugal e Itália em amistosos de preparação disputados em 2008 e 2009.


Elano Ralph Blumer
meia
Iracemápolis (SP), 14.06.1981
1,74 m
65 kg
Clubes: Guarani (1999/2000), Inter de Limeira (2000), Santos (2001 a 2005), Shakhtar Donetsk-UCR (2005 a 2007), Manchester City-ING (2007 a 2009) e Galatasaray-TUR (desde 2009).
Títulos: brasileiro (2002 e 2004) pelo Santos; ucraniano (2005/06) pelo Shakhtar; da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 50 (7 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

sexta-feira, maio 28, 2010

Os 23 da Copa (VI) - Gilberto: outra vez na janela do bonde

Uma das melhores revelações do Tio Sam (tradicional equipe carioca de futsal), Gilberto era, porém, muito mais conhecido no início de sua carreira apenas como "o irmão do Nélio". O mano mais velho até teve um início promissor no futebol, fazendo parte de uma geração vitoriosa nos juniores do Flamengo e depois vestindo a lendária camisa 10 titular por algumas temporadas. Contudo, perdeu-se a partir de meados da década de 90 em virtude da indisciplina e do gênio difícil em campo (era acusado por muitos adversários de ser extremamente desleal e maldoso).

Após sair das quadras e passar algum tempo nos times menores no América, Gilberto chegou ao Rubro-Negro em 1996, quando Nélio ainda se encontrava na Gávea, mas já alternando entre entradas e saídas da equipe titular. Mostrou bom futebol, de categoria nos avanços ao ataque e segurança na marcação, sendo titular na conquista invicta do Estadual do mesmo ano.

Mas a sorte mudou já no segundo semestre. O Flamengo fez um Brasileiro medíocre, sofrendo várias goleadas e ficando muito longe da zona de classificação à fase final. E Gilberto acabou perdendo a posição de titular para o jovem Athirson, então mais uma grande promessa oriunda da tradicional "fábrica de craques" rubro-negra.

Após passar mais uma temporada quase inteira no banco, em 1997 (tendo oportunidade de atuar apenas nas convocações de Athirson para a Seleção Sub-20), Gilberto acabou mudando de ares. Foi para o Cruzeiro e recuperou seu bom futebol. Destaque da ótima, porém azarada equipe comandada por Levir Culpi em 1998 (campeã mineira e vice em outros três campeonatos, Copa do Brasil, Brasileiro e Copa Mercosul), chamou a atenção da tradicional Internazionale de Milão.

No time que também contava com Ronaldo, Gilberto teve pouquíssimas oportunidades e não chegou a corresponder quando as recebeu. Retornou ao Brasil seis meses depois, desta vez para vestir a camisa do Vasco.

Mostrou novamente um bom futebol em São Januário. Mas novamente o azar lhe perseguiu: passou longo tempo se recuperando de uma grave contusão no joelho, perdendo praticamente toda a temporada de 2000. Com a crise financeira começando a tomar conta do clube e os salários começando a atrasar, tomou parte na grande barca de medalhões que deixou o clube alvinegro ao longo de 2001.

Indicado pelo técnico Tite, chegou ao Grêmio. Teve ótima passagem por Porto Alegre (com direito à sua primeira convocação para a Seleção, disputando a Copa das Confederações), ainda mais depois que, no Brasileiro de 2003, foi deslocado para o meio-campo e foi um dos nomes decisivos para o Tricolor escapar do rebaixamento. Ao final da competição, seu contrato encerrou-se e foi arriscar a sorte no emergente São Caetano, treinado por seu velho conhecido Tite.

O treinador logo caiu e foi substituído por Muricy Ramalho. Mas Gilberto, também fixado no meio-campo do Azulão, foi um dos pilares da equipe que conquistou o inédito título paulista. Tão logo acabou o campeonato, transferiu-se para o Hertha Berlim da Alemanha, valendo-se de uma cláusula que obrigava o São Caetano a liberá-lo sem custos em caso de proposta européia vantajosa.

Gilberto demorou um pouco a se encontrar na capital alemã. Seu futebol acabou surgindo justamente no meio da temporada da Bundesliga, época em que o frio intenso domina a Europa e os gramados ficam muitas vezes totalmente branquinhos. Por causa disso, a torcida lhe deu o sugestivo apelido de "Homem da Neve". A boa fase acabou lhe valendo o retorno à Seleção, fazendo parte do grupo que conquistou a Copa das Confederações em 2005, competição em que disputou quatro das cinco partidas como titular, inclusive a final contra a arquirrival Argentina. A essa altura, já há muito tempo as coisas haviam se invertido: Nélio é que passara a ser "o irmão do Gilberto"...

Conquistou sua vaga no Mundial da Alemanha praticamente aos 45 do segundo tempo, valendo-se principalmente da má fase do concorrente Gustavo Nery no Corinthians. Como já era esperado, não pôde alimentar esperanças de ganhar a posição de Roberto Carlos, mas aproveitou a única chance, diante do Japão, ocasião em que o camisa 6 e outros titulares foram poupados, para fazer uma boa atuação e até deixar um golzinho.

Com a chegada de Dunga, Gilberto continuou sendo chamado, apesar da idade avançada que teria (como tem) por ocasião da Copa de 2010, disputando posição com jovens como Marcelo, Adriano e Filipe Luís, ascendentes como André Santos e Juan Maldonado, e até mesmo improvisados, caso do folclórico Richarlyson. Todos ficaram pelo caminho. E após mais de um ano sem qualquer convocação, marcado ainda por uma infeliz passagem pelo Tottenham (onde ficou boa parte do tempo relegado ao time B) e o retorno ao futebol brasileiro para uma segunda passagem pelo Cruzeiro, Gilberto acabou de forma surpreendente retornando à Seleção e mais uma vez se garantindo num Mundial em cima da hora.

Deverá travar boa briga pela posição de titular com Michel Bastos, outro lateral-esquerdo de origem que, contudo, há muito tempo, não atua na posição. E seja quem for o vencedor, terá muito trabalho para convencer a opinião pública, ressabiada com a escassez de opções numa posição que até bom pouco atrás era farta em oferta de bons jogadores para a Seleção.


Gilberto da Silva Melo
lateral-esquerdo
Rio de Janeiro (RJ), 25.04.1976
1,80 m
78 kg
Clubes: América-RJ (1993 a 1995), Flamengo (1996/97), Cruzeiro (1998 e desde 2009), Internazionale-ITA (1999), Vasco (1999 a 2001), Grêmio (2002/03), São Caetano (2004), Hertha Berlim-ALE (2004 a 2008) e Tottenham-ING (2008/09).
Títulos: carioca (1996) pelo Flamengo; mineiro (1998) pelo Cruzeiro; brasileiro (2000) e da Copa Mercosul (2000) pelo Vasco; paulista (2004) pelo São Caetano; da Copa das Confederações (2005) e da Copa América (2007) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 33 (1 gol)
Participação em Copas:
2006 (5º lugar) - 1 jogo, 1 gol

Foto: CBF.com.br

Os 23 da Copa (V) - Gilberto Silva: ainda uma muralha?

As categorias de base do tradicional América Mineiro têm rendido bons frutos nos últimos anos, entre eles a conquista da Copa São Paulo de Juniores em 1996. Entre os jogadores revelados pelo Coelho neste período, o principal é sem dúvida Gilberto Silva.

O volante logo conquistou um lugar entre os profissionais do clube, sendo um dos principais destaques na conquista da Série B em 1997. O América teve passagem fugaz pela elite, sendo rebaixado já no ano seguinte, mas Gilberto mostrou qualidades e logo passou a ser objeto de desejo dos arquirrivais Atlético e Cruzeiro.

Após uma longa "novela", que envolveu até briga judicial, o Galo ganhou a disputa e contratou a jovem promessa em janeiro de 2000. Gilberto logo mostrou que era uma realidade, graças a um futebol simples e eficiente, de boa técnica e precisão nos passes, garantindo a proteção à defesa sem maiores estardalhaços. Chegou até a ser improvisado na zaga, mas seu lugar era mesmo a cabeça-de-área.

Depois da grande participação no Brasileiro de 2001, sendo escalado para quase todas as seleções de melhores do campeonato e levando o Atlético às semifinais, sua convocação para a Seleção Brasileira passou a ser exigida por toda a opinião pública mineira. Sua estréia ocorreu na vitória sobre o Chile (2 x 0), em Curitiba, pelas Eliminatórias da Copa da Coréia e Japão, entrando no segundo tempo.

Ganhou um lugar entre os 23 jogadores do técnico Luiz Felipe Scolari após ótimas atuações nos amistosos preparatórios. Mas o que estava bom ia ficar ainda melhor. A triste contusão do titular e capitão Emerson, na véspera da estréia contra a Turquia, deu a Gilberto a chance de ouro de sua carreira. E ele não decepcionou: atuou todas as sete partidas, sem jamais ser substituído, e foi talvez o jogador mais regular da Seleção em toda a Copa.

Durante a vitoriosa campanha do pentacampeonato, o técnico francês Arsène Wenger mostrou-se muito impressionado com o futebol discreto porém eficiente do volante brasileiro. O treinador do Arsenal deu-lhe um apelido bastante apropriado: Invisible Wall ("Parede Invisível") e não sossegou até finalmente levar o jogador para a tradicional equipe londrina, por 9 milhões de dólares, tão logo terminou o Mundial.

No duro futebol inglês, Gilberto logo conquistou a torcida com sua categoria na marcação, recebendo pouquíssimos cartões amarelos e eventualmente fazendo belos gols na frente. Foi peça importante na grande equipe que foi campeã da Premier League de 2003/04 e acumulou longa invencibilidade.

Depois disso, alguns percalços. Gilberto sofreu algumas contusões que lhe custaram a posição de titular na Seleção, perdida para o antigo titular Emerson. Em 2006, na fracassada campanha da equipe de Parreira na Alemanha, praticamente revezaram-se na disputa pela cabeça de área. De certa forma, o mineiro terminou vencedor, atuando na eliminação diante da França e sendo mantido no grupo com a chegada de Dunga.

Após perder a posição no Arsenal, acabou negociado com o Panathinaikos, da Grécia, em 2008. Mas seu lugar na Seleção segue intocável, apesar das críticas de boa parte de imprensa e torcida, que lhe apontam uma certa decadência técnica e lentidão no combate, embora não tenha até hoje chegado efetivamente a comprometer com a camisa amarela.

Superar a desconfiança dos críticos e corresponder em seu terceiro (e provavelmente último) Mundial é o desafio de Gilberto Silva, mostrando que, apesar de já longe do auge, pode ainda assim ser uma útil, embora silenciosa, peça no tabuleiro do técnico Dunga.


Gilberto Aparecido da Silva
volante
Lagoa da Prata (MG), 07.10.1976
1,84 m
74 kg
Clubes: América-MG (1996 a 1999), Atlético-MG (2000 a 2002), Arsenal-ING (2002 a 2008) e Panathinaikos-GRE (desde 2008).
Títulos: brasileiro da Série B (1997) pelo América-MG; mineiro (2000) pelo Atlético; inglês (2004) e da Copa da Inglaterra (2003 e 2005) pelo Arsenal; grego (2010) e da Copa da Grécia (2010) pelo Panathinaikos; mundial (2002), da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 91 (4 gols)
Participação em Copas:
2002 (campeão) - 7 jogos, nenhum gol
2006 (5º lugar) - 4 jogos, nenhum gol

Foto: Getty Images

quinta-feira, maio 27, 2010

Os 23 da Copa (IV) - Juan: elegância na zaga

O carioca Juan Silveira dos Santos sempre se destacou pela categoria e técnica no trato com a bola. Disputando a final do Mundial Sub-17 do Equador, em 1995, contra Gana, marcou um belo gol de calcanhar, mas não evitou a derrota brasileira por 3 x 2. No ano seguinte, foi o vice-artilheiro do Flamengo no Estadual de Juvenis, com 13 gols. Detalhe: era, e ainda é, zagueiro.

Desde sua chegada à Gávea, quando tinha apenas 11 anos, Juan sempre mostrou ser um jogador diferenciado dentro da posição, aliando a boa técnica a uma ótima impulsão e segurança no desarme, apesar do físico esguio e aparentemente franzino. O sucesso estendeu-se à camisa amarela: passou por todas as seleções amadoras. Visto como grande promessa, cedo foi promovido ao time profissional do Flamengo, em 1996, com apenas 17 anos.

Logo a decisão mostrou-se precipitada. Ficando quase sempre na reserva e perdendo ritmo de jogo, Juan não conseguiu manter uma boa seqüência ao entrar na equipe, que estava em péssima fase. Contudo, eventualmente mostrava sua categoria marcando gols decisivos, como o que eliminou o Internacional na Copa do Brasil de 1997 e, principalmente, em um tento belíssimo diante do Olimpia do Paraguai pela extinta Supercopa Libertadores, com uma arrancada fulminante seguida de uma meia-lua no beque adversário e a conclusão na saída do goleiro.

Foi reconduzido aos juniores para ganhar mais experiência. E logo retornou ao quadro principal, em 1999, mesmo ano em que disputou o Sul-Americano e o Mundial Sub-20 pela Seleção. Assumiu a camisa titular e festejou o quarto tricampeonato estadual da história rubro-negra.

Na conquista do tri, tinha a seu lado Gamarra, um de seus melhores "professores" no início da carreira e, igualmente, famoso por esbanjar elegância na posição. O becão paraguaio, do alto de sua experiência, ainda revelou: "Tecnicamente falando, ele é o melhor companheiro de zaga que já tive". Pena que a dupla durou pouco tempo. Gamarra logo foi jogar no AEK Atenas da Grécia e Juan passou a dividir a zaga com jogadores de (muito) menos gabarito, como os estabanados Fernando, Valnei e Leonardo Valença.

Mesmo assim, Juan já havia conquistado destaque suficiente para chegar à Seleção principal. Convocado pela primeira vez por Emerson Leão, seguiu tendo oportunidades com Luiz Felipe Scolari. Sua presença chegou a ser dada como certa no Mundial de 2002, mas na última hora, Felipão surpreendeu, preferindo levar mais um jogador de meio-campo, no caso o corintiano Vampeta, que por sinal estava em péssima fase.

Mal se refez do baque, Juan tomou o rumo do futebol alemão, negociado por 3,2 milhões de dólares com o Bayer Leverkusen. Lá, chegou com moral, comparado ao campeão mundial Aldair, outro ex-rubro-negro que brilhou intensamente na Europa. Tinha ainda a vantagem de atuar numa equipe repleta de brasileiros, entre eles o também beque Lúcio, este integrante da equipe pentacampeã no Japão e na Coréia do Sul.

Logo se firmou e fez uma das melhores duplas de zaga da Alemanha, aliando sua técnica apurada ao estilo mais vigoroso de Lúcio. E o prêmio foi o retorno à Seleção pelas mãos de Carlos Alberto Parreira.

Após boas participações na Copa América de 2004 e na Copa das Confederações do ano seguinte, ambas conquistadas sobre os eternos rivais argentinos, Juan firmou-se como titular da zaga. No Mundial de 2006, reeditou a bem-sucedida parceria que havia estabelecido com Lúcio, já à época defendendo o Bayern Munique. Formaram uma dupla sólida e atuaram em todas as partidas sem jamais serem substituídos, estando entre os poucos jogadores poupados das críticas após mais uma doída eliminação diante dos franceses.

Trocou o Bayer pela Roma no ano seguinte, firmando-se no duro futebol italiano. E a dupla com Lúcio manteve-se inabalável na Seleção. A única dúvida sobre o futuro do ex-flamenguista no Mundial da África do Sul recai sobre sua atual condição física, um tanto incerta após várias contusões musculares sofridas nos últimos anos. Se estas não incomodarem, será uma vez mais garantia de segurança lá atrás.


Juan Silveira dos Santos
zagueiro
Rio de Janeiro (RJ), 01.02.1979
1,82 m
73 kg
Clubes: Flamengo (1996 a 2002), Bayer Leverkusen-ALE (2002 a 2007) e Roma-ITA (desde 2007).
Títulos: carioca (1999/2000/01), da Copa Mercosul (1999) e da Copa dos Campeões (2001) pelo Flamengo; da Copa da Itália (2008) pela Roma; da Copa América (2004 e 2007) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 75 (7 gols)
Participação em Copas:
2006 (5º lugar) - 5 jogos, nenhum gol

Foto: Getty Images