segunda-feira, julho 02, 2012

Chance de salvação. Ou mero “descanso”

Considerado o “Campeão do Século” do futebol brasileiro no século XX (por ter conquistado ao menos uma vez todos os campeonatos de âmbito nacional já disputados até hoje), o Palmeiras, para o desgosto de seu apaixonado torcedor, tem um desempenho inversamente proporcional neste século XXI. De 2001 para cá, foram apenas dois títulos oficiais (um deles, a dispensável Série B), uma sucessão de times modestíssimos, nada dignos de sua gloriosa história, eliminações vexatórias em confrontos de “mata-mata”, dinheiro gasto a rodo sem critério tampouco retorno, enfim, tudo isto como consequência óbvia e cruel da constrangedora incompetência dos dirigentes.

Uma nova oportunidade de redenção virá a partir do próximo dia 5, quando a equipe de Luiz Felipe Scolari começará a decidir a Copa do Brasil contra o encardido Coritiba. Por diversos fatores, o título é visto de forma especial por todos no Palestra.

Em primeiro lugar, trata-se da última edição da Copa do Brasil como verdadeiro “atalho” para a Libertadores do ano seguinte. A partir de 2013, a competição ganhará mais participantes, durará praticamente o ano todo e terá de volta, a partir das oitavas-de-final, os times brasileiros que disputarem a Libertadores no mesmo ano. A moleza, se que é ainda existia, acabará de vez.

A Copa também surge como única chance real de comemorar algo ainda este ano. Sofrendo no Brasileiro (onde ter elenco é fundamental), o Palmeiras já começa a vislumbrar a possibilidade de mais uma vez ter que brigar para apenas ficar no modesto bloco intermediário; a Copa Sul-Americana, que se inicia em agosto, seria a outra opção, mas o desânimo que deve abater o clube em caso de fracasso na decisão da Copa do Brasil pode ajudar a abreviar a campanha de cara.

Vencer a Copa do Brasil garantiria, além da hoje tão rara festa do título, a vaga na Libertadores com mais de seis meses de antecipação, tranquilizando o elenco e a torcida para o restante do Campeonato Brasileiro e permitindo planejar com antecedência as contratações e toda a logística de trabalho em 2013. O exemplo do Vasco, ganhador da competição ano passado, e que se mantém bem e em relativo alto-astral até hoje, está bem vivo na memória.

O momento da conquista também pode ser bastante propício em termos comerciais. A nova Arena que substituirá o velho estádio Palestra Itália está com suas obras a pleno vapor e aguardando investimentos de vulto, e a empolgação do torcedor com o eventual troféu poderia ainda impulsionar o novo plano associativo lançado na última semana.

O título é, também, talvez a última chance para personagens como Felipão e Valdivia justificarem seu retorno e seus salários de nível europeu. Difícil imaginá-los sobrevivendo a novo fracasso, especialmente o treinador, que já antecipou não desejar renovar o contrato que se encerra em dezembro próximo.

Perder a Copa do Brasil tem tudo para ser desastroso para o Palmeiras. Desanimado, tendo o restante de um Campeonato Brasileiro duríssimo para enfrentar e sem poder alimentar a esperança de atingir as metas sonhadas, combalido por mais crises e brigas de dirigentes e conselheiros mais interessados em alimentar o próprio ego do que no próprio bem da agremiação, e talvez perdendo os poucos grandes nomes que ainda lhe restam, o time corre, até mesmo, o risco de repetir o vexame máximo vivido dez anos atrás.

E ganhar a Copa do Brasil, salvará o Verdão? Difícil dizer. A esta altura, tamanho é o sofrimento do torcedor que o título se torna obrigatório para, ao menos, devolver-lhe um pouco da alegria e fazê-lo esquecer um pouco das tragédias que o acometem sem piedade nos últimos anos. Na verdade, a conquista por si só não representa qualquer garantia de "cura": caso siga unida à eterna bagunça e descaso reinantes nos bastidores do clube, acabará tendo mais ou menos o mesmo efeito de uma visita dos Doutores da Alegria a uma criança com câncer terminal: o paciente fica feliz, ri, deixa por um momento as mazelas de sua triste vida de lado mas, tão logo passa a empolgação, se dá conta de que continua irremediavelmente condenado...

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